Caio Ribeiro faz revelações sobre o centenário do Grêmio e afirma ter descoberto “trairagem” de treinador

Atual comentarista da TV Globo jogou no tricolor na temporada de 2003 e em seguida foi embora

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Os torcedores mais jovens do Grêmio podem até não lembrar, mas Caio Ribeiro, hoje comentarista da TV Globo, atuou com a camisa do clube no ano do centenário gremista, em 2003, em uma passagem que ele próprio admite ter sido apagada. Mas que teve uma série de polêmicas – algumas delas reveladas pelo próprio Caio, só agora, em entrevista ao jornalista Duda Garbi.

Antes de entrar nos assuntos mais espinhosos daquela temporada, Caio, que fez 8 gols em 41 jogos, lembra com carinho da qualidade do elenco montado para 2003. A ideia do clube, no primeiro ano de gestão do presidente Flávio Obino, era vencer a Libertadores, cuja eliminação na semi do ano anterior para o Olimpia, nos pênaltis, em casa, ainda não havia sido digerida. Mas as lesões, a falta de planejamento para o primeiro ano de Brasileirão de pontos corridos e, em seguida, a saída de Tite, atrapalharam qualquer possibilidade de grandes campanhas, segundo o ex-atacante:

“Nosso time era muito forte. Mas por que foi um ano horroroso? Porque era o primeiro ano dos pontos corridos no Brasileirão. Na Libertadores, perdemos nas quartas para o Independiente Medellín e o Boca foi campeão sobre o Santos. Nosso time era para brigar pelo Brasileirão. O ataque era eu e o Luís Mário e o Christian chega. Só que a metade do nosso time foi embora no meio da temporada em fim de contrato. Anderson Polga foi embora, Rodrigo Fabri foi embora… perdemos três ou quatro caras importantes e a outra metade machucou”, iniciou Caio, para depois relembrar outros episódios.

“A gente perde na Colômbia e cai na Libertadores. Na volta, tínhamos dois jogos fora. Bahia em Salvador, que perdemos de 2×1 com gol meu e depois o Figueirense em Florianópolis. O juiz começa a errar algumas coisas, a gente faz um bolinho no árbitro e o Christian e o Gavião agridem o árbitro. Tomaram 90 e 60 dias de gancho. Só aí ficamos sem Fabri, Polga, Christian, Gavião e eu machuco, o Tinga, o Anderson Lima e o Roger também machucam. Era quase um time fora”.

Episódio das “ovelhinhas” encerra ciclo de Tite no Olímpico

Responsável por comandar o Brasil nas duas últimas Copas do Mundo, Tite, ainda novato, começa a chamar a atenção do Grêmio em 2000 ao vencer, com o Caxias, o Gauchão dentro do Estádio Olímpico. Como em um caminho natural, foi contratado pelo tricolor para tocar o ano seguinte e já respondeu de imediato, com os títulos do Gauchão e da Copa do Brasil. A tão sonhada Libertadores não veio em 2002 e também não veio em 2003, quando o até hoje lembrado episódio das “ovelhinhas” ajudou a encerrar o ciclo do técnico.

O fato ocorre quando o repórter Luís Henrique Benfica, para o jornal Zero Hora, liga para o presidente Flávio Obino para uma entrevista. Ao que consta até hoje, o mandatário se atrapalha, não desliga direito o telefone e o jornalista, do outro lado da linha, segue ouvindo o teor da reunião que Obino estava tendo com os demais dirigentes do futebol: Luiz Eurico Laranja Vallandro e Luis Onofre Meira. Vallandro, já falecido, chega a dizer o seguinte sem saber que estava sendo gravado: “O Anderson Lima, o Rodrigo Fabri e o Luís Mário… não cabe ficar preservando as ovelhinhas do negócio, não dá”. No outro dia, a tentativa da direção em escalar o Grêmio estampava a capa do maior jornal do estado.

Caio Ribeiro faz revelações sobre o centenário do Grêmio e afirma ter descoberto "trairagem" de treinador

“No meio dessa confusão, eu estou voltando de lesão muscular que tive no meio da Libertadores e fico no banco. Aí vaza aquele áudio do presidente dizendo que eu tinha que jogar, que o George Lucas tinha que jogar, mas o Tite ficava com as “ovelhinhas” dele. Por conta disso, o Tite chega e diz: ‘Ovelhinha não, me respeitem, eu estou fora’. Entregou o cargo. Tite sempre foi um cara extremamete ético e correto. Um cara fantástico que eu tive o prazer de trabalhar. Tenho admiração pela pessoa antes do treinador. E nesse episódio ele vai embora”, declarou Caio Ribeiro.

Hoje vivendo o outro lado do balcão, sendo membro da “imprensa”, o ex-atacante afirma entender o lado do jornalista, que obteve, ainda que “sem querer”, um furo em suas mãos. Mas ele, Caio, garante que não publicaria de jeito algum:

“Uma grande sacanagem com o Tite. Eu não posso dizer se foi de propósito ou não, mas o Tite não merecia ter sido exposto daquele jeito. Ele sempre foi muito íntegro. É errado publicar? Não. Foi um furo. Mas eu não faria. Pois prejudicou muita gente e prejudicou o clube”.

Tite sai, risco de rebaixamento entra

O que era para ser um elenco vencedor começa a se transformar em um time desacreditado, repleto de desfalques e correndo risco de cair. Após Tite, a direção aposta sem sucesso em Darío Pereyra e depois vai no ex-zagueiro do próprio Grêmio, capitão do título da Libertadores de 1995, Adilson Batista. Com ele, Caio teve problemas sérios, até hoje não revelados na imprensa, que você vai conferir um pouco mais abaixo.

Antes, o comentarista da TV Globo relata outro fato. Na época, o titular gremista Anderson Lima, que já estava no clube há várias temporadas, estava afastado com uma lesão no olho e assim abriu espaço para o jovem da base, George Lucas, ter chance na lateral-direita. O garoto deu conta do recado e constava em uma lista prévia de convocação para uma Seleção de base. Caio, por ter jogado no Rio de Janeiro nos anos anteriores, sabia que o colega seria chamado, mas a direção gremista, já temendo o rebaixamento, pediu a “desconvocação” de George para a CBF sem avisar ou consultar o jovem jogador.

“Tínhamos oito desfalques e perdemos o treinador. Chega o Darío Pereyra, que não vai bem. Aí chega o Adilson Batista para tentar salvar o time. Na época, existia uma seleção de novos e eu, por ter relação próxima com o pessoal do Rio de Janeiro, sabia que o George Lucas ia ser convocado. O Anderson Lima estava com um problema no olho na época. Faltavam uns seis jogos e tínhamos que ganhar quatro para não cair. De um time que foi construído para ser campeão da Libertadores e tinha bola para isso, mas há um desmanche no meio, o técnico sai e passamos a brigar para não cair. Olha o absurdo que era. Nesse momento, o Grêmio tenta um carteiraço e pede para a CBF não convocar o George. Carteiraço não, um pedido. O Anderson estava machucado e a CBF cedeu”, explicou Caio.

“Hoje eu vejo como imprensa, mas ainda tenho o lado de atleta e é duro você tirar o sonho de um jogador defender a Seleção Brasileira. Aí a gente vai para algum outro jogo e o Anderson se recupera. É escalado e o George fica no banco. Ele perde de ir para a Seleção e fica no banco. Aquilo me consumiu”.

Caio, amigo de Danrlei, perde espaço com Adilson

Antes titular – inclusive pedido pela direção no episódio das “ovelhinhas” -, Caio Ribeiro passou a não jogar a partir da chegada de Adilson. O capitão da Libertadores de 1995 fez, inclusive, o que nenhum outro treinador gremista tinha feito até então: barrou o goleiro Danrlei para dar espaço a Eduardo Martini. Caio não crava que a sua perda de espaço foi por conta disso, mas admite que era muito amigo de Danrlei.

“O Adilson não me botou para jogar. Nos últimos quatro jogos, nem me convoca. Ele tinha afastado o Danrlei e eu era muito amigo do Danrlei. O penúltimo jogo era o contra o Santos, fora. Eu estava bem, disponível, mas ele não me levou. Tudo bem, opção do treinador. Eu vou pra casa, em São Paulo. Toca o meu telefone. Tinga e outros caras. Me falaram que um cara tinha se machucado, que era para eu ir ajudar. E eu: ‘Pelo amor de Deus, óbvio que eu vou, pego o carro e em 1 hora estou aí’. Santos de São Paulo é do lado. Só que alguém do clube precisava me convocar, e esses jogadores que me procuraram disseram que iriam falar com Adilson. Mas ele não me convoca de novo e vai com o jogador machucado para o banco. Aquilo ali… eu vi que estava fora dos planos”, lamentou o antigo atleta.

Caio Ribeiro faz revelações sobre o centenário do Grêmio e afirma ter descoberto "trairagem" de treinador
Adilson passou por outros grandes clubes como Santos, Corinthians, Vasco, São Paulo e Cruzeiro. Seu último clube foi o Botafogo-SP, que disputa a Série B – Foto: Divulgação/Cruzeiro

Não para por aí. A gota d’água da relação com o treinador acontece na rodada seguinte, que era a última do Brasileirão de 2003 e o Grêmio precisava ganhar do Corinthians em Porto Alegre – como ganhou – para evitar o rebaixamento à Série B de 2004. Para a sua própria surpresa, Caio constava na lista de relacionados, mas ele imaginou ter sido convocado por Adilson por “má intenção” do treinador, por assim dizer.

“Me dou bem com o Adilson. Fiquei um tempo sem falar com ele por conta desse episódio, mas hoje em dia está tudo bem. O último jogo era em casa contra o Corinthians. Sabe quem foi convocado? Eu. Só que eu treinei a semana toda no time reserva e em nenhum momento fui para o titular. Posso estar sendo injusto, mas, na minha cabeça, ele me levou pro banco para eu entrar se o time estivesse caindo. Só para ficar com a marca de que eu caí para a segunda divisão”, revelou.

Irritado, Caio procurou a direção do Grêmio

Entendendo que Adilson Batista só o convocou para “marcá-lo” em caso de rebaixamento, Caio Ribeiro procurou o antigo e lendário dirigente do Grêmio, Antônio Verardi, para botar o próprio clube contra a parede. Se fosse para estar no jogo contra o Corinthians apenas para ter o seu nome manchado pela eventual queda, algo que suspeitava que era o desejo de Adilson, ele jogaria no ventilador tudo o que estava acontecendo no ano do centenário do clube, inclusive a manobra da direção para tirar George Lucas de uma convocação. E Caio saiu da lista, vendo de casa a vitória sobre o Corinthians.

“Bato na sala do Seu Verardi. Aliás, um beijo para a família dele, que foi um dos caras mais fantásticos que eu já trabalhei. Entrei na sala e falei: ‘Seu Verardi, se vocês resolverem me colocar para jogar, eu estou 100% à disposição, porque tenho certeza que a gente não vai cair, mas, do jeito que ele está fazendo as coisas, eu não concordo e vocês não vão usar o meu nome de sacanagem’. E falei mais: ‘Se o meu nome estiver na lista e for para ser titular, eu vou pro jogo, mas se estiver na lista pelo jeito que eu acho que está eu vou na imprensa e vou dizer porque o George Lucas não foi convocado e vou contar mais coisas que estão acontecendo aqui dentro’. E meu nome saiu da lista. A gente ganha, não cai”, recordou Caio.

Caio Ribeiro faz revelações sobre o centenário do Grêmio e afirma ter descoberto "trairagem" de treinador
“Seu” Verardi recebeu uma visita de Caio Ribeiro antes da rodada final do Brasileirão de 2003 – Foto: Grêmio/Site Oficial

Poucos atletas de 2003 permaneceram para o 2004 do Grêmio, que conseguiu ser ainda pior com o rebaixamento sofrido faltando mais de uma rodada de antecedência. Caio Ribeiro não ficou para a temporada seguinte e até hoje não lida bem com a forma como tudo aconteceu:

“Eu acabo indo embora, o Roger acaba saindo também. E no ano seguinte o Grêmio acaba caindo. Muita coisa errada foi feita em 2003. Você pode não gostar do meu jogo, pode achar que eu perdia gol, que eu era ruim, que eu não deveria ter jogado no Grêmio. Isso faz parte, são análises técnicas. Mas eu sempre fui íntegro, correto e honesto. Por isso eu deixei as portas abertas em todos lugares que passei. Eu não queria ter saído do Grêmio, mas o jeito que eu saí não foi legal”, finalizou.

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