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Presente em queda do Grêmio, Tiago Prado relembra força da torcida e avisa: “Não é trocando treinador que se resolve”

Reportagem do Zona Mista publica entrevista com o ex-zagueiro do clube nos anos de 2004 e 2005, Tiago Prado

Mesmo mantendo total confiança de que o Grêmio irá conseguir escapar do rebaixamento, o ex-zagueiro Tiago Prado, presente na queda em 2004, tem uma preocupação clara com as constantes trocas de treinadores do clube na atual temporada. Já se somaram quatro profissionais comandando o time em 2021, igualando a mesma marca de treinadores em 2004 – algo apontado por Tiago, à reportagem do Zona Mista em entrevista exclusiva, como uma das grandes causas da queda daquele ano.

Na entrevista, o já aposentado zagueiro relembra a maneira como foi descoberto pelo Grêmio em uma antiga Copa Santiago no interior gaúcho, cita o quanto um jogador de futebol sofre no dia a dia com o time na zona do rebaixamento e recorda momentos marcantes ao lado da torcida gremista no antigo Olímpico:

Zona Mista: Para começarmos nosso bate-papo, como você define o Grêmio em sua vida desde a chegada na base até os momentos nos profissionais? São boas lembranças?

Tiago Prado: Primeiramente, um grande abraço a todos os leitores. É um prazer e uma satisfação estar dando esta entrevista para vocês. Tive uma história muito feliz no Grêmio. Maravilhosa. Tenho um respeito e um carinho enorme pela torcida do Grêmio. Pela história vivida por mim dentro do clube. Carinho especial que tenho, também, por várias pessoas que trabalharam comigo na época. Isso me alegra muito quando algum jornalista ou torcedor me aborda na rua e fala que lembra de mim no Grêmio. Fico muito feliz com isso. Eu vim para o Grêmio do União Bandeirantes, do Paraná. A gente disputou uma Copa Santiago, de juvenis, no interior gaúcho e lá encontrei Marcelo Rospide, Ronaldo Becker, profissionais do Grêmio, e fiz um jogo contra o Cruzeiro e o pessoal gremista estava assistindo. Gostaram de mim. Tinha bastante gente do Grêmio lá com conhecimento de futebol e me levaram para o clube. Cheguei na base e tive bons momentos. Infelizmente, o União Bandeirantes fez um contrato falso e vinculou na Federação Paranaense. Eu tive que sair do Grêmio para resolver a situação. Foi cerca de um ano resolvendo essa pendência e aí voltei aos juniores do Grêmio. Só que não joguei. Fiz a pré-temporada com o profissional em 2004, lá em Gramado, até como uma oportunidade para o Adilson Batista, treinador da época, me conhecer. Fui bem na pré-temporada. Estava treinado, estava bem e acompanhei bem o grupo. Fui até um dos destaques da pré-temporada, fiz gol em jogo-treino. Meu primeiro jogo como profissional fiz um gol também contra o Glória, de Vacaria. Momentos muito felizes na base e também na chegada ao profissional.

ZM: Passada essa pré-temporada, você se firma no elenco de 2004 e tem regularidade como titular do Grêmio. E, claro, você acabou fazendo parte daquela campanha difícil que culminou na queda de divisão. Olhando para trás, qual foi o fator principal que gerou o rebaixamento?

TP: Com certeza, foi muito difícil. Os salários nossos todos eles eram pagos em dia. Só que eram salários, principalmente pra nós que vínhamos da base, bem baixos. Ganhávamos muito pouco. Muito mesmo. E a responsabilidade nossa era grande. Um dos fatores principais da nossa queda foi a primeira troca de treinador. A saída do Adilson Batista. Porque o Grêmio já vinha de um desgaste de 2003 de quase ter caído. Desfez todo o grupo, fez um elenco novo e quando o Adilson saiu, em 2004, o nosso time não estava mal. Nós estávamos em 10° ou 11°, pelo que lembro. Depois do Adilson, chega um novo treinador e pede lá cinco ou seis jogadores de reforços. Aí o time não engrena, não tem resultado. Aí manda embora. Vem outro técnico e, consecutivamente, traz mais cinco jogadores. Então, no meu modo de pensar, o principal fator que gerou o rebaixamento de 2004 foi a troca constante de técnicos e o grande número de contratações no meio do campeonato. Muitos jogadores que passaram na campanha. E havia desgaste grande entre jogadores e comissão técnica. Acredito muito nisso. Eram contratações feitas de forma enganosa, com jogadores que não iriam resolver o problema em campo. Chegávamos a ter quatro ou cinco laterais-esquerdo. Zagueiro… bastante também. Todas as posições tinha bastante gente. O Grêmio errou nesse ponto, talvez pelo desespero de não querer cair.

ZM: Comparando com o momento agora, em que o Grêmio está em 19° lugar no Brasileirão, você acha que existe semelhança daquele time de 2004 com o atual?

TP: Não tem como comparar. O Grêmio de hoje vive uma situação totalmente diferente. É um Grêmio que paga salários altos, que tem um grupo de jogadores jovens, que tem lideranças que até pouco tempo eram considerados os melhores do Brasil. O que o pessoal precisa entender, principalmente diretoria e torcida, é que não é trocando treinador que vai resolver o problema. A diretoria precisa é entender o momento, se fechar com o elenco, montar um esquema de jogo diferente, trazer uma motivação para o grupo… porque a troca de treinador gera uma insegurança, uma incerteza. Não gera aquilo de “opa, agora vamos motivar e vamos seguir adiante”. Não rola isso. O grupo fica desconfiado e com medo. E acaba não tendo desempenho individual e nem coletivo. Os resultados estão sendo praticamente os mesmos daquele ano que caímos, mas não existe comparação. Outros jogadores, outras pessoas envolvidas, outro estádio. Eu não comparo o Grêmio de 2004 com o de 2021. O de hoje tem muito mais força, muito mais prestígio e com certeza tem todas as condições de galgar uma vitória no próximo jogo. Às vezes, vem uma derrota e se joga jogador contra torcedor, diretor contra torcedor. Não se pode fazer terra arrasada também. Tem que pensar sempre no próximo jogo e encará-lo como final.

ZM: Na época, vocês tiveram vários treinadores diferentes – foram quatro naquela campanha. Agora, o Grêmio demitiu o Felipão e também irá para mais um treinador. Isso prejudica o grupo?

TP: Saiu o Adilson, veio o Cuca, depois veio o Plein, teve o Cláudio Duarte. Também tivemos um tempo ali com o Beto Almeida. Eram propostas e projetos de decisões erradas e equivocadas. A imprensa também se desgastava muito com o Adilson, que, no meu modo de ver, foi um dos melhores treinadores que eu tive. É um cara que entende de futebol. Mas se o resultado não vem em duas ou três partidas, a imprensa já começa a desgastar a relação com o treinador. Muitas vezes não se resolve o problema trocando o técnico. Poderia ser o caso de se fechar ainda mais com o treinador. Com toda certeza, a solução fica dentro do grupo e não fora. E precisa ser colocada em prática para se preparar para o próximo jogo. Não tem que pensar que “precisamos sair dessa situação”, não, tem que pensar em “temos que ganhar o próximo jogo”. E repito: não vai ser trocando toda hora de treinador que o Grêmio vai sair dessa situação, não. Tenho experiência dentro do futebol. Dois anos atrás o Geromel e o Kannemann eram considerados os melhores zagueiros do futebol brasileiro.

ZM: E hoje?

TP: Era porque o Grêmio estava ganhando. O treinador era o melhor do mundo, o Renato. Mas aí foi perdendo jogos decisivos, o Renato já não era mais considerado o melhor do mundo. E daqui a pouco o Kannemann e o Geromel já não são mais os melhores. Quando eu joguei no Grêmio, se eu tivesse um grupo que estivesse ganhando, eu seria um dos melhores zagueiros do país também. Então o futebol a gente olha só pelo lado da vitória. E quando não ganha, a gente só pensa em trocar. Fica naquilo de “esse não serve, esse outro não serve”. Na verdade, não é servir ou não. É que o momento, quando não é bom, exige uma maior concentração e um grupo ainda mais fechado para que o resultado venha.

Tiago foi titular do Grêmio durante o ano de 2004 – Foto: Reprodução

ZM: Gostaria de te perguntar sobre a torcida do Grêmio. Agora, ela, ainda que em número reduzido, voltou ao estádio. Quais lembranças você tem da torcida no antigo Olímpico?

TP: Eu tenho lembranças maravilhosas da torcida do Grêmio. Lembro que, sempre quando eu andava nas ruas de Porto Alegre, a torcida me apoiava. Pouquíssimas pessoas me criticavam. Não tinha a mesma tecnologia de hoje. E o Grêmio também não tinha a mesma estrutura que tem hoje. Era bem inferior mesmo. Digamos assim: na minha época, o jogador ia com muita raça. Hoje, o jogador vai com muita tecnologia. Faz exame, se deu cansado, recupera o atleta. Na nossa época, não. Jogou, e se tivesse cansado, azar, tinha que treinar no dia seguinte e jogar de novo. Mas o carinho que eu tenho pela torcida é enorme. Lembro da avalanche… eles sempre me apoiaram. A lembrança é maravilhosa, e eu tenho muita saudade. Queria ter feito uma história ainda melhor no Grêmio, até pelo fato de que vim da base. Queria que tivesse sido uma passagem mais vitoriosa e infelizmente não consegui. Mas a minha carreira foi bem vitoriosa. Parei de jogar e lembro de gols que fiz pelo Grêmio e a torcida gritando, celebrando. Tenho imagens boas disso.

ZM: Para fechar: um jogador, no dia a dia, sofre e sente quando o clube está em situação de zona do rebaixamento? Ou ele consegue separar as coisas?

TP: Eu, com toda certeza do mundo, te afirmo que o jogador é quem mais sofre. Porque ele sofre cobrança dele mesmo, da família dele, dos colegas, da comissão técnica, da imprensa, da torcida, da diretoria, de inúmeras pessoas. O jogador é quem mais sofre. Treina e joga querendo dar resposta positiva. Coletivamente. E quando a resposta não vem, o jogador sofre. Não dorme direito, não se alimenta direito. Só não sofre aquele que não é comprometido com o time. Que lança uma energia negativa sobre os outros colegas. A torcida do Grêmio, hoje, precisa lançar uma energia positiva sobre os jogadores. Para que o grupo consiga sair desse marasmo, dessa dificuldade que está. Para assim vencer o próximo jogo, adquirir mais confiança para o próximo e ir assim. Tenho certeza que o Grêmio não será rebaixado.

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