Ex-volante do Inter na temporada de 2023, Gustavo Campanharo viveu um drama em 2024 e relatou via rede social toda a experiência negativa que teve jogando com as cores do Atlético-GO, que acabou rebaixado no Brasileirão. O jogador, que recentemente concedeu entrevista exclusiva ao Zona Mista, disparou contra a direção goiana, disse ter tido uma lesão negligenciada e revelou ter sido boicotado até de treinamentos no longo relato que publicamos na íntegra abaixo:
Eu poderia começar escrevendo esse texto de tantas formas, tipo como todos os clubes que passei, sendo grato pela oportunidade e tudo mais. Mas não, aqui foi diferente, aqui eu passei coisas que jamais havia passado em 15 anos de carreira. Aqui me senti humilhado, desvalorizado, descartado, impotente, e como se eu tivesse trabalhando para mostrar meu potencial mas ninguém iria valorizar isso, nada iria mudar, já estava decidido. Eu cheguei, fiz toda preparação física, e ao final dessa preparação senti uma lesão. Já começou por aí, as minhas dores e aflições eram praticamente ignoradas, me mandavam pra campo sem nenhuma condição de fazer aquilo que eu sempre amei fazer.
Eu fui para o caminho de casa chorando por pelo menos uma semana, porque ninguém me dava soluções. Até que cheguei ao meu limite, não conseguia mais lutar contra aquilo, estava me fazendo mal. Nos reunimos, eu implorava por uma resolução, algo que me consumia a cada dia que passava, e uma opção (que meu médico particular também indicou) era uma artroscopia, que em menos de 2 meses eu estaria de volta. Fui colocado contra a parede no clube, me colocaram medo, diziam que poderia continuar da mesma forma, que eu teria um grande risco, e pra completar, falaram que se eu realmente quisesse fazer isso, teria que assinar um termo, assumindo toda a responsabilidade.
Logicamente que com toda essa pressão psicológica, a insegurança e o medo bateram, mas juntamente com meu médico particular decidimos por fazer. Nesse período, o fisioterapeuta foi mandado embora, diziam que ele colocava coisas na minha cabeça, (provando que nao acreditavam nas minhas dores, ou mais uma vez ignoravam o fato de eu não conseguir treinar). Assumi metade dos custos do procedimento, pro clube não sair totalmente lesado. Ocorreu tudo bem na cirurgia e também na minha reabilitação, como o esperado (por mim e pelo meu médico particular). A todo momento o presidente dizia contar comigo, para que eu voltasse logo para ajudar, que ele precisava de mim, e a todo momento eu trabalhava incansavelmente para voltar o mais breve possível.
Fiz minha estreia, atuei por 10, 15 minutos. Após isso passei 7 jogos sem nem entrar em campo. Joguei mais 10, 15 minutos. E logicamente, atleta para estar completamente 100% necessita de tempo de jogo, sequência, confiança. Passei mais alguns jogos fora e ganhei oportunidade em mais 10 minutos. Até que resolvi conversar com o presidente, e pra minha surpresa ele disse que já estava se programando para o próximo ano, que o time já havia sido rebaixado (metade do campeonato) e eu não fazia mais parte dos planos do clube, com menos de 30 minutos jogados.
Eu me sentia bem, cada vez melhor, aquelas dores que me consumiam sumiram, mas a dor da injustiça surgia. De momento eu estava treinando normalmente, e com possibilidades de ir para o jogo, mas chegava até o presidente e ele barrava minha convocação, assim como muitos que passaram por ali. O treinador que no momento estava, já não concordava com muita coisa, inclusive com o que acontecia comigo, e saiu. Após alguns dias, fui chamado, e a notícia é de que a partir daquele momento eu começaria a treinar em separado de todo grupo. Eu perguntei o porque, e falaram que teriam alguns motivos: um seria a questão salarial, que caso eu machucasse novamente, teriam que continuar me pagando (até parece que ninguém machucou no ano e atleta gosta de se machucar) e outra situação seria comentários de pessoas próximas a mim nas redes sociais (coisas que não posso controlar).
A partir desse momento, comecei a treinar em separado, somente trabalhos físicos. Em um certo momento foi solicitado pelo auxiliar da preparação física, que em um terça-feira meu treinamento começaria às 9h. Nessa terça eu estava lá, e ao chegar no clube, fui abordado no caminho do vestiário pelo braço direito do presidente e perguntado o porquê eu estava no clube, já que não deveria estar nesse dia. Falei que o que me foi passado era que teria treino. Ao chamar a pessoa que me comunicou do treinamento, ela falou que sim, havia me avisado que eu não tinha treino nesse dia, para não confrontar o seu superior do clube. Tive que virar minhas costas, explodindo por dentro, e ir pra casa.
A partir daí a decisão foi que eu treinasse dia sim e dia nao, e sábados e domingos livres. Como falei no início do texto, eu fui humilhado, desvalorizado, injustiçado, e além disso tudo citado, tiveram outras situações, mas que prefiro não citar. Acredito que momentos bons e ruins todos nós temos, e no futebol é simples, nos momentos ruins, trabalhamos e damos a volta por cima. Porém aqui eles não permitem que isso aconteça. Comecei a ser ignorado no clube, não pelos atletas, mas por algumas pessoas que trabalhavam lá, perguntava horários de treinamento, ingresso para jogo e ninguém respondia. A cada dia que passava a angústia para que tudo isso acabasse só aumentava. E acabou!
Essa carta é pra todos aqueles que me perguntavam durante o ano, o que estava acontecendo, ou para aquelas que me acompanhavam mas não sabiam o que se passava, e claro, um desabafo, pra também tentar dar voz aos que estão no clube e aos que passarão por lá, porque de alguma forma vão tentar calar vocês, com alguma pressão psicológica. É preciso entender, que além de atletas, somos seres humanos, e ali, esse lado, é praticamente jogado no lixo. Tudo aquilo que sonhava e planejava não se concretizou para esse ano, mas meu caráter, minha vontade de fazer dar certo, e meus objetivos pessoais continuam vivos, porque tudo que passei aqui não me define. Agora, sigo em busca de novos rumos, na certeza que sempre dei o meu melhor, e busquei ter a melhor versão de mim, como sempre. Parece clichê, mas quem me conhece sabe que eu não escreveria isso por tão pouco. Mas o mundo da bola gira, e certas coisas servem de aprendizado. E como serviu! Vamos pra próxima… Um abraço a todos, Campanharo