
Voz marcante no que diz respeito ao combate à discriminação racial no esporte, o técnico Roger Machado falou abertamente sobre racismo em entrevista à agência de notícias francesa AFP, responsabilizando a “postura convergente” do atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro no aumento dos casos de racismo nos estádios de futebol do país.
Para Roger, é flagrante o crescimento de uma “cultura de ódio” vivida com mais força “nos últimos quatro anos” no Brasil:
“Aumentam da mesma forma que os atos discriminatórios na sociedade. (…) Os que acreditam estar perdendo parte de seus privilégios nessa rede que o racismo construiu durante 500 anos reagem de forma mais agressiva. É um processo relacionado com uma cultura de ódio que vivemos com muito mais força nos últimos quatro anos no Brasil. Mas não é uma situação regional, é global”, disse, antes de criticar Bolsonaro sem citar seu nome:
“Os indivíduos (racistas) que estavam escondidos (porque a sociedade os reprimia) se sentem autorizados a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação, (porque estes) são convergentes. Temos que resistir, porque sua intenção é que retrocedamos, e isso não podemos permitir”.
O atual treinador do Grêmio entende que não será possível terminar com o racismo de forma imediata no futebol brasileiro:
“Imediatamente, não. Mas é possível se começarmos a discutir o assunto abertamente, sendo conscientes de que haverá maiores atos de discriminação por um movimento de resistência. Haverá um grupo que não vai mudar porque acredita ser de uma raça superior (…) Mas isso já foi discutido para outros assuntos, como quando a mulher decidiu ocupar novos espaços na sociedade. O preconceito foi muito forte. No entanto, houve coragem para debater o tema. O que não podemos é ficar escondidos atrás do mito da “democracia racial” no Brasil”, concluiu.