
Então setorista do Grêmio no site Globoesporte.com no ano de 2008, o jornalista Alexandre Alliati foi escalado para cobrir a pré-temporada do clube em Bento Gonçalves e teve a sorte – ou o azar – de se hospedar não apenas no mesmo hotel da delegação gremista como também no quarto ao lado de Paulo Pelaipe, então diretor de futebol do time na época e responsável direto pelas contratações.
Alliati, em uma série de tuítes na última quinta-feira, pegando o “gancho” da volta de Vagner Mancini ao Grêmio, lembrou da ocasião em que Pelaipe, aos gritos e janela do quarto do hotel, fazia negociações e mencionava um certo “gringo”, que, na época, especulava-se que fosse D’Alessandro – meses depois, ele jogaria no rival Inter.
Mancini, que volta ao Grêmio para tentar evitar o rebaixamento, durou bem pouco tempo naquela temporada exatamente por atritos com Pelaipe. O treinado fez apenas seis jogos e foi demitido mesmo invicto, dando lugar ao experiente Celso Roth.
Confira a história contada por Aliatti envolvendo Mancini, Pelaipe e D’Alessandro:
“O retorno de Vagner Mancini ao Grêmio me fez lembrar de alguns dos momentos mais peculiares que vivi na cobertura da Dupla Gre-Nal. O tempo passou, o print é eterno, então é momento de contar. Segue o fio”
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“Era começo de 2008. O Grêmio fazia sua pré-temporada em Bento Gonçalves. Eu estava lá cobrindo – e hospedado no mesmo hotel do clube. Não apenas no mesmo hotel: no quarto ao lado do diretor que fazia as contratações. E que tinha por hábito negociar aos gritos, junto à janela”
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“O diretor se chamava Paulo Pelaipe (o mesmo que depois passou por Flamengo e outros clubes). Do meu quarto, eu o escutava negociando. Certa feita, ele disse a um interlocutor, provavelmente outro dirigente: – Fica tranquilo: o Diego Souza fica, o Souza vem e o gringo vem também”
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“O gringo, sabíamos por conversas em off com pessoas do clube, era um argentino magrelo e canhoto com fama de encrenqueiro, mas bom de bola. Um certo… Andrés D’Alessandro”
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“Buenas, passam-se alguns dias, e o Grêmio está fazendo um jogo-treino no interior de Bento Gonçalves, à sombra dos parreirais, quando um repórter de uma rádio local se aproxima esbaforido de nós, imprensa da capital, e diz: – Ouvi. Pelaipe. Telefone. Passagens compradas. Gringo”
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“Sabíamos da negociação, mas não que estava tão avançada. Começamos a buscar mais detalhes. Procuramos Pelaipe – que negou a história das passagens. Acabou o jogo-treino, e aí resolvemos perguntar ao treinador – no caso, Vagner Mancini. E a resposta foi de uma sinceridade incomum:”
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“- Quando cheguei, o D’Alessandro já estava na lista feita pela diretoria. Dei o meu aval, porque trata-se de um grande articulador. Dos três jogadores com os quais estamos negociando, ele é o mais estrela. Não sei se é o mais eficaz – disse o Mancini naquele dia”
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“Lembro que os repórteres de rádio saíram da entrevista, entraram no ar e noticiaram que o Grêmio estava em vias de contratar D’Alessandro. Havia elementos: as informações em off, a escuta do repórter da rádio local, a declaração do treinador confirmando o interesse”
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“Até hoje, não sei o que houve: se foi invenção do repórter, se foi uma pegadinha do dirigente (que acabou saindo do controle), se a negociação teve um recuo enquanto tudo isso acontecia. De minha parte, trato como uma barriga (como chamamos no jornalismo uma informação errada)”
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“Mancini acabou ficando só seis jogos no Grêmio. Foi demitido invicto, por total falta de sintonia com a diretoria da época. Souza chegou alguns meses depois. Diego Souza não ficou. E D’Alessandro, passado algum tempo, realmente foi parar em Porto Alegre. Mas para jogar no Inter.”