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No “aniversário” da Batalha dos Aflitos, Anderson escreve carta ao Grêmio: “Desejo toda sorte do mundo”

Então jovem meia foi o grande nome da vitória dramática construída em 26 de novembro de 2016

Há exatos 15 anos, em uma abafada tarde no Recife, o Grêmio construía um dos capítulos mais inacreditáveis de toda a sua história. E não há outro adjetivo para resumir um jogo em que, com quatro expulsos e dois pênaltis a favor do adversário, o time consegue sair de campo com o resultado.

Foi assim, com um gol de Anderson, que o tricolor venceu fora de casa o Náutico por 1×0 e obteve a tão almejada vaga de retorno à Série A do Brasileirão já a partir de 2006. Em carta escrita à reportagem de GaúchaZH – leia na íntegra abaixo -, o ex-meia relembrou que até já estava vendido ao Porto na ocasião:

“Eu já tinha até falado com meu empresário e com o presidente Paulo Odone que não queria mais jogar. Foi uma semana bastante intensa. Eu estava muito triste, para baixo. Mas, com todos os jogadores me apoiando e me levantando, consegui ter a cabeça focada para a partida. Eu sabia que seria meu último jogo”, declarou.

Apesar da passagem pelo Inter entre 2015 e 2016, Anderson deixa claro todo o seu carinho pelo Grêmio:

“Desejo toda a sorte do mundo ao Grêmio, que é um clube pelo qual tenho um carinho imenso. Parabéns pela Batalha dos Aflitos, não só aos jogadores e diretoria, mas a todo mundo que participou. Sou muito grato por poder contar esta história aos meus filhos e dizer que participei deste momento especial do clube”, acrescentou.

Reveja a defesa de pênalti de Galatto, o gol de Anderson e, abaixo, a íntegra de sua carta:

Com a palavra, Anderson:

Lembro de alguns dias antes daquele jogo. Na verdade, eu não ia jogar. Fiquei muito triste com uma situação que aconteceu em um jogo anterior, em casa, contra o Santa Cruz. Acabaram me escondendo no vestiário. O Mano Menezes me deixou lá escondido e me colocou só aos 46 minutos do segundo tempo. Era meu último jogo pelo Grêmio diante da torcida. Eu já tinha sido vendido ao Porto.

Eu já tinha até falado com meu empresário e com o presidente Paulo Odone que não queria mais jogar. Foi uma semana bastante intensa. Eu estava muito triste, para baixo. Mas, com todos os jogadores me apoiando e me levantando, consegui ter a cabeça focada para a partida. Eu sabia que seria meu último jogo. 

A gente tinha sofrido o ano todo. Eu era o mais jovem, tinha recém feito 17 anos. Fui criado dentro do Grêmio. Morei na “Caverna” (apelido dado aos alojamentos das categorias de base no Estádio Olímpico) e fazia todas as minhas alimentações no clube. Então, praticamente nasci dentro do clube e era importante para mim botá-lo de volta no seu lugar. Eu não precisava jogar, mas o grupo precisava de mim e eu me doei 100%, ao máximo, para conseguir o objetivo. E graças a Deus, papai do céu iluminou a todos nós.

Fiz um ano muito bom em 2005. Não só no Grêmio, mas na seleção de base. E, quando tive a notícia de que estava sendo vendido, pedi para ficar até o final do campeonato. Na época, o Porto não queria aceitar, mas eu falei que faltavam apenas quatro jogos. Eu confiava em todos os jogadores e eles me abraçaram como o “menino de ouro” deles. Todos me protegiam e cuidavam de mim. O Jeovânio, o Sandro Goiano, o Patrício, o Samuel, o Lucas… Todos eles.

Para mim, o gol foi um trabalho não só daquele ano, mas de toda a vida que sofri. Saí de casa com nove ou 10 anos para tentar conseguir uma vida no futebol, dar um conforto para minha família e para mim. E eu consegui fazer isso com a ajuda de muitas pessoas. Sou muito grato a todos. Na comemoração, foi um desabafo também, porque eu estava triste com o que tinha acontecido alguns dias antes.

Na verdade, eu era uma criança. Estava triste, mas nunca baixei a cabeça, e os jogadores nunca deixaram de me apoiar. Aquilo foi coisa de Deus, não adianta. São aquelas coisas que acontecem no futebol. Únicas. O Grêmio estava vivendo um momento financeiro muito difícil e, com a minha venda, deu para ajeitar o clube durante uns dois anos.

Em 2015, o Inter abriu as portas para eu voltar ao Brasil e eu agradeço muito por isso. Infelizmente, não conseguimos chegar no nosso objetivo. É difícil quando um jogador tem uma história com outro clube e vai para o rival. Às vezes, acaba atrapalhando. Pelo fato de eu ser do Sul também, as pessoas pegavam um pouco no meu pé, mas nunca deixei isso me abalar. Mas pode ter certeza que eu sempre dei meu máximo e joguei até com lesão. 

Mas, apesar de eu ter voltado para o Inter, eu sempre acompanhei o Grêmio. O clube conseguiu montar uma estrutura muito boa. Temos que lembrar lá do passado, onde o momento era difícil e a gente conseguiu fazer com que o clube chegasse, com a minha venda e a de outros jogadores depois, a voltar ao lugar que é dele.

Hoje em dia, o Grêmio tem uma coisa que é muito importante: um presidente que está fazendo um ótimo trabalho, junto de um treinador, que é o Renato, que está no cargo há quase cinco anos. É bom ter essa sequência, pois os jogadores já sabem como ele gosta de trabalhar e o clube sabe como ele funciona.

Também conseguiu fazer caixa com vendas em sequência, não saiu comprando todo mundo, fez seu trabalho e hoje está entre as cinco potências do futebol brasileiro. Tem uma tática de jogadores jovens de uma genética muito boa, acreditando nos meninos da casa. Além disso, tem o Maicon e o Geromel, que são jogadores experientes e pessoas fantásticas, que tive o prazer de conhecer. No Brasil, isso é difícil. Se perde um jogo ou dois, ninguém mais presta. Mas, com a proteção do Renato, isso não acontece dentro do clube. Ele protege os jogadores. Então, o clube está em um momento muito bom.

Desejo toda a sorte do mundo ao Grêmio, que é um clube pelo qual tenho um carinho imenso. Parabéns pela Batalha dos Aflitos, não só aos jogadores e diretoria, mas a todo mundo que participou. Sou muito grato por poder contar esta história aos meus filhos e dizer que participei deste momento especial do clube”.

 

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