O uruguaio Marcelo Lipatín foi um dos sete jogadores gremistas que sobraram em campo nos minutos finais da épica Batalha dos Aflitos contra o Náutico, em 2005. No calor do jogo, ainda dentro das quatro linhas, o atacante entendeu que ele seria a última opção de um gol para os gaúchos – e por isso se surpreendeu – mas depois aprovou – a sua própria saída para a entrada do zagueiro Marcelo Oliveira já no fim da vitória de 1×0. Ao olhar pra trás, o hoje empresário do futebol é só elogios à gestão de Mano Menezes entre 2005 e 2006, e os elogios também são feitos ao trabalho liderado por Romildo Bolzan na atual presidência do clube.
Zona Mista: Para começarmos o nosso papo, gostaria de te perguntar sobre as tuas melhores lembranças do Grêmio. Como você resume e define a sua passagem pelo clube?
Lipatín: Sem dúvida nenhuma a Batalha dos Aflitos é a minha grande lembrança. Foi um jogo incrível, histórico, que ficamos todos nós marcados na história desse grande clube. Tivemos o privilégio de estar no clube nesta época, nesta data tão importante. E somos lembrados, como você está fazendo comigo nesta entrevista, por esse momento tão especial.
ZM: Este fatídico jogo contra o Náutico é o que você consideraria o maior da sua carreira?
L: A Batalha dos Aflitos foi o que mais marcou. Marcou muito devido aos episódios em si da partida. E como aconteceu. Eu acredito que é difícil termos um jogo nos próximos anos tão marcante. Não somente filmes, livros, mas dá para trazer muitos aprendizados desse jogo. Dentre eles, as decisões de um grande líder. Porque eu sei que o Mano Menezes, nosso treinador na época, naquele momento, precisou tomar decisões importantes para que continuássemos firmes e que no final saíssemos vitoriosos.
ZM: Antes do desfecho daquela partida nos Aflitos, você foi substituído pelo Mano Menezes. Lembra como acompanhou o fim? Ficou no banco de reservas? O que lembra de bastidores daquele final?
L: Eu fui substituído pelo Marcelo Oliveira e olha que coisa incrível, que é compatível com a minha outra resposta. Porque, quando estávamos naquele instante, com seis na linha e o Galatto no gol, éramos sete, e veio aquele pênalti contra e os minutos finais, o meu pensamento era diferente do que o Mano pensou. Mesmo sendo eu o único atacante, eu pensei: “Poxa, talvez o único que pode fazer um gol sou eu, pois sou o único da frente”. Mas o Mano, como o grande profissional que é, pensou diferente. Ele projetou a defesa do pênalti e a entrada do Marcelo Oliveira pra realmente fechar o sistema defensivo. O Mano me tirou naquilo que a gente chama de gestão de grupo, de equipe. Lembro que eu vi o pênalti atrás do gol. Quando o Ademar perde, eu salto pra comemorar no canto atrás da goleira. Saltei desenfreadamente quando o Galatto defendeu o pênalti.
ZM: E era um grupo do Grêmio que, se não tinha tanta qualidade técnica, vestia a camisa sempre.
L: Eu lembro que tínhamos um grupo excelente. Muito bom. Não somente de atletas, mas de seres humanos, de pessoas que vestiram a camisa como segunda pele naquele momento. Se entregaram a 100%. Lembro de Pereira, Nunes, Marcelo Costa, Lucas, Sandro Goiano, Cássio, Galatto, uma turminha aí, dentre tantos outros que merecem essa homenagem quando se lembra dessa data e da história do Grêmio.
ZM: Foi uma opção sua ir para o Marítimo de Portugal no ano seguinte ou você gostaria de ter ficado mais tempo no Grêmio?
L: No ano seguinte, o meu contrato com o Grêmio acabava entre maio e junho. Depois da Batalha dos Aflitos, nós começamos o Gauchão e o clube fez algumas contratações. Senti que perdi um pouquinho de espaço no elenco, até por ser um jogador estrangeiro. Chegaram também o Maidana e o Herrera. Tinha o Escalona também. Éramos quatro. Então perdi o espaço, faz parte do futebol. Ao finalizar o contrato, tive a oportunidade de ir para o Marítimo de Portugal.
ZM: Para encerrar, hoje você atuando com gestão e como empresário no meio do futebol, qual a sua análise do trabalho realizado pela gestão e pela direção do Grêmio liderada pelo presidente Romildo Bolzan Jr?
L: Eu acredito que o Grêmio está, como está hoje, em todos os sentidos, graças ao trabalho do nosso querido presidente Romildo Bolzan. Juntamente com o Carlos Amodeo, que é o CEO do clube, que fazem um trabalho fantástico e que inseriram o Grêmio novamente em um patamar importantíssimo no futebol brasileiro, sul-americano e mundial. Vejo a gestão como fantástica, espetacular em todos os sentidos. Bolzan é um torcedor, mas é um gestor. Uma pessoa íntegra, trabalhadora e que o lado torcedor dele não faz perder a razão e a lógica em momentos importantes do clube. Tenho profundo respeito a ele e feliz do torcedor gremista de poder ter um presidente tão capacitado à frente do clube.