Dribles, cruzamentos e arremates potentes. Vinha dos pés de Daniel Carvalho, principalmente o esquerdo, um resquício de esperança dos colorados por dias melhores no início dos anos 2000. Com ele como figura de destaque no time de 2003, o Inter foi começando a crescer. Por dinheiro em caixa, precisou vendê-lo em 2004 e da Rússia, onde defendeu o CSKA por muitos anos, o ex-meia viu o clube se consagrar com os títulos da Libertadores e do Mundial. Nem a volta ruim em 2008 tirou o carinho que até hoje habita o coração de Daniel, personagem de hoje da “Exclusivas” do Zona Mista.
Zona Mista: Agora, depois de encerrada a carreira, você olha para trás e define o Inter como?
Daniel Carvalho: Como um clube que foi tudo pra mim. Porque eu saí de casa com 12 anos, 12 pra 13 quando cheguei no Beira-Rio. Cheguei para morar e ficar no Beira-Rio. Morei praticamente cinco anos da minha vida ali até ir para o profissional e começar a dar meus primeiros chutes no time principal. Depois saí pra Rússia vendido em uma nova fase da carreira. Posso dizer sem sombra de dúvidas que o Inter foi tudo na minha vida profissional. O pouco que tenho hoje é graças ao Inter no aspecto financeiro como no lado humano também. O Inter foi muito importante na minha vida e quem me transformou como pessoa.
Zona Mista: Em 2003, você foi decisivo com assistência e gol na virada sobre o Grêmio, no Olímpico, pelo Gauchão, quebrando um jejum de 13 clássicos. Fale desse jogo.
DC: Esse eu posso dizer que foi meu momento mais marcante pelo Inter. Estávamos há 13 Gre-Nais sem vencer. Quatro anos sem vencer o rival. Tive a felicidade de dar o passe pro primeiro gol, já que estávamos perdendo e depois nós empatamos. Fiz o gol da virada. Acho que muita gente entende que ali foi a grande virada do clube. Ganhando clássicos e começando a fase que viria com conquistas de títulos. Pra mim aquele jogo foi muito marcante e penso que pro Inter também.
Zona Mista: Como foi ter jogado muitos anos no CSKA, da Rússia, e também na Seleção Brasileira?
DC: Muito bom. Tive uma boa passagem por lá. Praticamente ninguém do Brasil conhecia o futebol russo. Com a minha chegada no CSKA conquistamos a UEFA no ano de 2005. Primeiro clube do leste europeu a ter vencido um título continental. Eu acabei me destacando, então fui muito feliz lá também. Ali que eu, enfim, consegui chegar à Seleção. Muitas pessoas achavam que eu tinha que voltar pro Brasil ou para um centro mais forte da Europa para ser convocado, mas eu tive o privilégio de chegar jogando no CSKA.
Zona Mista: Há algum tipo de arrependimento em sua volta ao Inter em 2008?
DC: Deixei muito a desejar na minha volta. Acredito que, naquele momento, não estava à altura do Inter. Eu acho que não estava com a cabeça ideal, nem preparado. Um contrato difícil na época. Difícil conseguir a liberação com o CSKA, isso foi ainda em agosto e fiquei praticamente quatro meses na volta ao clube. Foi uma loucura. Se hoje eu pudesse voltar atrás, teria feito com mais cuidado. Na época acabei incomodando, incomodando, incomodando… até que os russos me liberaram. Mas daqui a pouco ainda não era a hora certa de voltar. Principalmente na parte física. Estava em um momento ruim na parte física, deixei a desejar. Se formos lembrar, até as quartas de final da Sul-Americana vinha jogando somente a equipe reserva. Então eu me sinto parte importante daquele título. Inclusive com gol no Gre-Nal no Beira-Rio, depois com passe pro Índio no segundo clássico fora de casa. Em um todo, eu deixei a desejar no meu retorno, mas eu, particularmente, por essa conquista da Sul-Americana, acredito que tive uma participação boa.
Zona Mista: Confia que o Inter passa pelo Cruzeiro e faz a final da Copa do Brasil?
DC: Contra o Cruzeiro eu não torço nem pela vitória do Inter. Um empatezinho já está bem bom, né? (risos). Empate já nos leva à final e seria histórico. Histórico mesmo, como foi em 2014, com aquela final entre Atlético-MG x Cruzeiro. Ficaria feliz se fosse Gre-Nal, desde que, depois, terminasse com um título do Inter. Do contrário… pelo amor de Deus. Não ia ter como dormir no Rio Grande do Sul. Acredito sim em um Gre-Nal e que o Inter possa ser campeão. Faz tempo que não ganha um título nacional e penso que está na hora. Torço muito pelo Odair, que é uma pessoa que eu me lembro ainda da base do Inter, nos juniores, sempre muito especial. Estou na torcida para que o Inter passe pelo Cruzeiro.