Em uma longa entrevista concedida ao site da ESPN Brasil, o ex-volante e técnico da Seleção e do Internacional, Dunga, avaliou os últimos fatos envolvendo o clube do Beira-Rio como por exemplo a troca na comissão técnica, passando de Eduardo Coudet para Abel Braga.
Dunga disse entender as razões que levaram Coudet a aceitar a proposta do Celta de Vigo, mas lembrou que o time, com ele, já vinha tendo uma “decaída” dentro de campo. O ex-volante entende que Chacho permaneceria caso confiasse no trabalho e no elenco:
“O Coudet estava há seis meses como treinador do Internacional, e nós já colocamos ele como um dos melhores do Brasil. E aí nós vamos botar na ponta do lápis. Eu vou ser objetivo. Campeonato Gaúcho, qual é o lugar que chegou? Estava no Campeonato Brasileiro liderando, concordo. Os últimos seis jogos, como é que foram? ‘Ah, mas o plantel é curto’, todo mundo sabe que o Brasil com essa pandemia ficou mais curto ainda, isso porque esse ano a gente não teve as vendas na metade do campeonato, já tem um ponto a mais”, disse, antes de acrescentar:
“É uma outra coisa que a gente tem que contextualizar. A gente não está lá dentro, não sabe o que está se passando e a leitura que o Coudet tem a possibilidade do Inter chegar na Libertadores, Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro. Ele estava o dia todo lá. Ele sabe o plantel que ele tinha, e aí não muda nada, Europa, Brasil, a gente traz os caras lá de fora, tem uma proposta melhor ele vai embora, igual aos treinadores brasileiros. Não muda nada. Ainda teve essa pandemia, tem a questão contratual, que todo mundo fala. Ele escolheu o que era melhor para a carreira dele, porque ele achava naquele momento. A gente não pode crucificar ele”.
Para Dunga, a direção do Inter demonstrava interesse em continuar com o trabalho de Coudet, que tinha contrato assinado até o final de 2021:
“Eu acho que vai por aí, acho que a resposta vai por aí. Porque ele estava lá o dia todo, se ele tivesse confiança no trabalho, na equipe, nos jogadores que ele tinha, ele iria permanecer. Até porque esse ano é um ano muito atípico, tudo pode acontecer no futebol brasileiro, pelo fato da pandemia. Tem muitas lesões, os jogadores não estão no melhor das suas condições, sempre alguma equipe tem algum problema de lesão ou pelo fato do vírus. Eu acho que era a grande oportunidade do Internacional continuar um trabalho com ele, porque a preparação física, a forma de jogar, os jogadores já estavam cientes do que tinha que fazer. Não só os que jogavam, como aqueles que entravam né. O que qualquer treinador gosta é de ter a continuidade no trabalho”.
Por fim, o ex-comandante da Seleção fez elogios a Abel Braga e pediu paciência para a análise do seu trabalho:
“Para mim, o Abel tem plenas condições, só que se nós vermos os últimos seis jogos do Internacional, ele já tinha começado a ter uma decaída. E agora entra o Abel, então já perdeu a primeira partida e o que todo mundo normal, todo mundo vai falar: ‘ah, tá vendo, trocou’. Mas a minha pergunta é a seguinte: se o time era habituado a jogar de uma forma até agora, trocou o treinador, em dois dias não pode esquecer tudo o que tinha treinado antes, né? Não pode ter modificado tudo que tinha treinado antes. É isso que a gente tem que contextualizar, nos últimos seis jogos o Inter já não estava tendo a intensidade, a forma de jogar. Essa é um bom tema para se discutir, que todo mundo fala em intensidade. Intensidade quer dizer o que? Velocidade, força… e com quem a gente consegue essa intensidade e essa força? Com jogadores jovens, com jogadores de velocidade e força. E quais as características do jogador que tem no teu time? Eles têm essa força, essa velocidade, essa intensidade? E aí vem outro aspecto que é bom a gente discutir. ‘Ah, mas tão jogando jogadores com 40 anos’. Porque eles têm o gesto técnico, se posicionam melhor no campo, batem melhor na bola, controlam melhor a bola, por isso que eles vão continuar jogando e fazendo a diferença”, concluiu Dunga.