
Na véspera de sua última partida oficial com a camisa do Inter, D’Alessandro não segurou as lágrimas ao ler uma carta escrita pelo jornalista, escritor e poeta colorado, Fabrício Carpinejar. Neste sábado, depois da vitória de 2×0 sobre o Palmeiras, no Beira-Rio, pelo Brasileirão, o camisa 10 agradeceu nominalmente a postura do comunicador por suas palavras.
“Ontem me mandaram, através de amigos, um texto do Fabrício Carpinejar. Eu não o conheço pessoalmente, mas sei da sua trajetória como escritor e me emocionei muito. Chorei, não foi pouco. Agradeço por todas as suas palavras. Ontem foi um dia difícil para dormir, passa um filme”, admitiu D’Ale, que foi alvo de muitas homenagens pós-jogo.
O texto escrito por Carpinejar foi a pedido do site Globoesporte.com e o jornalista escreve “em nome” do Estádio Beira-Rio. Leia abaixo na íntegra:
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Querido D’ Alessandro,
Aqui quem escreve é o Beira-Rio.
Sei que você falou que nada mudaria a sua decisão de se despedir do Inter, mas não pode deixar de ouvir a opinião do estádio, não pode virar as costas para a sabedoria dos mais velhos, de quem tem 51 anos e já viu de perto Claudiomiro, Valdomiro, Falcão, Carpegiani, Gamarra, Figueroa, Rubén Paz, Manga, Escurinho, Dadá, Fernandão, Taffarel, entre tantos, que testemunhou o tricampeonato brasileiro, o bicampeonato da Conmebol Libertadores, a Recopa, a Sul-Americana.
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Então, me escute. Por mais que eu já tenha chorado de alegria ao longo das minhas cinco décadas, nunca tinha conhecido alguém como você: tão encarnado, tão colorado, tão enlouquecido, desconcertante com seu elástico, imprevisível com La Boba, chamando o jogo para si, festejando até escanteios, cobrando falta com efeito, estufando o peito e berrando: aqui é o Inter!
Foi singular entre tantas lendas, especial entre tantas façanhas, o terceiro na história que mais vestiu o manto vermelho, com 516 partidas e 95 gols.
Parece que foi ontem que o vi chegando. Lembro de seu primeiro gol em Gre-Nal, no Brasileirão de 2008, naquela goleada inesquecível de 4 a 1 no rival, com seu canhão de canhota, de primeira.
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É sempre ontem nestes doze anos. Camisa dez habilidoso e bailarino, mas com raça e sangue de zagueiro, que não leva desaforo para o vestiário. Você não saia do túnel como os outros, porém vinha direto da Popular, da Camisa 12, da Super Fico, tal grau de identificação com o nosso torcedor.
Aprendi a respeitá-lo, a adorá-lo, a entender o tamanho do seu coração, o quanto ajudava crianças com câncer e organizava doações com o Lance de Craque. Você se importa conosco, você se dedicou a lutar pela nossa gente dentro e fora do campo. Desejo dizer que você não pode ir embora assim. Não sem a torcida, não é justo acenar para os alto-falantes, com as cadeiras vazias.
Você merece mais, eu mereço mais, merecemos casa cheia. Se não houvesse a pandemia, a torcida estaria gritando o seu nome e pedindo que ficasse. D’ Ale, você não iria resistir, não iria aguentar.
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Só não está podendo olhar a nossa dor de perto, a nossa saudade, talvez esteja achando que aceitamos as suas malas prontas passivamente. Claro que não!
Se quiser, eu converso com o novo presidente. Se quiser, uso meus poderes sobrenaturais: promovo greve, seco a grama, apago os refletores, impeço qualquer rodada de acontecer.