Embalado pela campanha que vinha fazendo no Ceará, na segunda divisão nacional, Luiz Carlos, que já era chamado de “Imperador do Nordeste” pela torcida do Vozão, aceitou uma proposta de quatro anos de contrato do Inter e se mudou para Porto Alegre no meio de 2008. Ele fez parte da campanha do título da Sul-Americana no mesmo ano, mas sofreu com a concorrência com Nilmar, pouco jogou e hoje, tantos anos depois, ao Zona Mista, admite ter feito a escolha errada em termos de carreira ao jogar no colorado:
Zona Mista: Como surgiu a possibilidade de ir para o Inter em 2008? Você acredita ter feito a escolha certa naquele momento da carreira?
Luiz Carlos: Naquele momento, eu não tinha o discernimento do meu planejamento de carreira e na minha humilde opinião eu não fiz a escolha correta. Era para eu ter analisado melhor o grupo e depois ter feito a escolha, porque eu vinha em um ritmo muito forte no Ceará, com vários jogos. No Inter, quando cheguei, fiquei um longo tempo sem jogar, pois o titular era o Nilmar. Então, sabendo que o Nilmar era o titular absoluto, não deveria ter ido para um clube que já tinha um centroavante de origem. Isso me atrapalhou bastante. Obviamente, perdi um pouco o meu foco chegando em Porto Alegre. Tive a opção de ir para o Grêmio também.
ZM: O Grêmio chegou a fazer proposta?
LC: Na época, o Grêmio não tinha um centroavante. Mas eu tive mais opções. Tive proposta para ir para o Atlético-MG, para o Cruzeiro, para voltar ao Vasco em uma outra condição, tive proposta do Botafogo. Já se passaram anos, mas hoje, analisando, fazendo uma gestão da carreira, acho que não fiz a escolha certa, por mais que tenha vindo ao título da Sul-Americana. Me apeguei ao longo tempo de contrato de quatro anos com o Inter, mas isso acabou me prejudicando ao longo da minha carreira. Se fosse hoje, faria uma melhor análise de quem estaria no clube, qual o centroavante e em qual situação eu seria utilizado. Hoje eu não iria para o Inter, foi um erro.
ZM: Quais as principais lembranças da época do Beira-Rio? Você conviveu com grandes nomes da história do clube como D’Alessandro, Clemer, Taison… foi especial?
LC: A convivência foi maravilhosa e foi uma experiência incrível ter jogado com jogadores de nível altíssimo. O Taison estava iniciando a carreira. O grupo tinha Daniel Carvalho, D’Alessandro, Edinho, Índio, Bolívar, Magrão, são caras com uma história no clube. O Índio e o Edinho tinham ganho o Mundial. E ser tão bem recebido por eles me fez me sentir em casa, fiquei bem à vontade. Aliás, só tenho a agradecer ao Inter pela oportunidade, porque foi de extrema importância ter jogado em um time grande com história linda, que foi campeão de tudo.
ZM: De onde surge o apelido “Imperador”? Acredita que isso te trouxe uma responsabilidade a mais na carreira pelas comparações com Adriano?
LC: O apelido veio da torcida do Ceará. Eu estava bem no clube e o Adriano estava muito bem na Inter de Milão. Pelo tamanho, pela forma física, pelo chute forte que eu também tinha, a torcida do Ceará colocou esse apelido carinhoso. Eu nunca achei nada pejorativo, até porque o Adriano é um ídolo e um amigo. Então, eu deixei o apelido, pois nunca me fez mal. Claro, levar esse nome é uma responsabilidade incrível, mas graças a Deus eu tive sucesso nos clubes que atuei depois do apelido.
ZM: O que você pode contar de bastidores daquele elenco do Inter campeão da Sul-Americana de 2008? Era um grupo muito unido?
LC: Era um grupo ímpar, muito bom. O que eu posso falar dos bastidores é sobre a união de todos. Eu acredito que a experiência do Alex, do D’Alessandro… não vínhamos tão bem no Brasileirão e focamos na Sul-Americana, onde fomos campeões. Dificilmente havia problema no grupo. Não tinha muito esse lance de indisciplina, de extracampo. Era um plantel bem comprometido, até porque nos fechamos muito para vencermos esse título. Era um grupo fechado. Uma coisa que me chamava atenção era a leitura do D’Alessandro. Teve um jogo contra o Estudiantes que tivemos um jogador expulso e ele mesmo armou duas linhas de quatro. O Tite ainda não tinha feito essa leitura. Obviamente, o Tite corrigiu depois. Fizemos duas linhas de quatro com um a menos e saímos com a vitória.
ZM: Como foi a sua relação com o Tite? Hoje, iniciando a carreira de treinador, quais profissionais você tem como inspiração?
LC: A minha relação com o Tite é a melhor possível. Depois de tanto tempo, quando você vem para o outro lado, você acaba entendendo o pensamento do treinador. Naquele momento, de repente eu não tive tanta oportunidade e a gente acaba colocando a responsabilidade no técnico. Mas não é nada disso. O treinador coloca quem está melhor. Se ele não me colocava é porque tinha outro melhor. Quando eu desejei ser treinador, o Tite me recebeu lá na Seleção Brasileira com toda a sua comissão. Todos me receberam muito bem. O Tite até me mandou um livro, me mandou abraço, desejou boa sorte, deu várias dicas sobre gestão de grupo. Ele é uma referência na minha profissão. Muitos treinadores são vaidosos, mas o Tite é zero vaidade. Um paizão e uma pessoa que eu agradeço em todos os sentidos.