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Patrício pede mais raça aos jogadores do Grêmio e cita bastidores da Batalha dos Aflitos: “Quem viu, viu”

Reportagem do site Zona Mista publica entrevista exclusiva com o ex-lateral Patrício

No “aniversário” de 19 anos da famosa Batalha dos Aflitos, que recolocou o Grêmio na elite do futebol brasileiro de forma dramática, o Zona Mista publica uma nova entrevista exclusiva com um dos personagens daquela tarde, o lateral-direito Patrício, titular gremista entre as temporadas de 2005 e 2006. Além do lendário jogo contra o Náutico, o ex-atleta também abordou outros temas como as dificuldades do time atual, o seu sentimento como gremista, o vice da Libertadores de 2007 e muito mais:

Zona Mista: Como está a sua atual relação com o futebol? Você, nos últimos tempos, atuou como auxiliar-técnico do Bolívar em alguns clubes. Gostou da função e pretende seguir na área futuramente?

Patrício: Hoje eu moro em Tramandaí. Eu estava trabalhando como auxiliar do Bolívar em alguns clubes que ele foi. Ficamos alguns anos juntos e tal. Fizemos os cursos da CBF e o Bolívar decidiu dar um tempo, uma parada, até para ficar mais com a família. Esse mundo do futebol, que vivemos a vida inteira como jogador viajando, ele decidiu dar uma parada. E eu decidi parar também. Mas nada impede de voltar ao mercado. Eu ainda tenho que fazer mais dois cursos na CBF na verdade. Eu só tenho o curso da B. Preciso fazer o da A e o da PRO também. A vida é assim, mas pretendo, sim, voltar ao futebol devagarinho, achar uma comissão técnica, alguém parceiro, porque numa comissão você precisa ter uma confiança muito boa. Eu e o Bolívar tínhamos isso. Tanto que ele fez a história dele no Inter, eu no Grêmio, mas sempre nos demos muito bem.

ZM: Em relação ao Grêmio, você teve duas passagens, uma no começo da carreira e a outra mais famosa entre 2005-2007. O que representou o Grêmio na sua vida e hoje você se considera gremista?

P: Tive essas duas passagens. Uma no ano de 2000 na Copa João Havelange, onde fomos até a semifinal e perdemos a semifinal para o São Caetano. Depois, retornei em 2005, naquela segunda divisão, na famosa Batalha dos Aflitos, que marcou muito. Saímos da segunda divisão do jeito que foi, campeão, para depois ganhar o Gauchão duas vezes, 2006 e 2007, além da final da Libertadores de 2007. Foi um momento muito marcante na minha carreira em 2007. Marcou muito, onde realmente a torcida gremista fazia a sua avalanche, era maravilhoso jogar no Olímpico. E eu sempre fui gremista. Sou aquele cara que realizei o sonho de criança de defender o time do coração. Fui muito realizado com isso. Sempre fui torcedor do Grêmio. Hoje, sofro um pouco com o que time vem passando, mas o sentimento é sempre o mesmo de apoiar, de assistir e de estar sempre junto.

ZM: Você está na história do Grêmio exatamente por ter participado daquela lendária Batalha dos Alfitos em 2005, que você citou há pouco. O que, de bastidores, você lembra daquela tarde? A polícia, por exemplo, foi truculenta com vocês jogadores?

P: Todos que jogaram a Batalha dos Aflitos estão na história do Grêmio, mesmo às vezes o Grêmio não reconhecendo muito, sem ter feito uma homenagem para aquele jogo épico. Talvez por ser segunda divisão, mas a gente sabe que quem viveu, viveu. Quem viu, viu. Quem não viu, só no YouTube agora (risos). Jamais vai ter um jogo igual. Foi muito marcante e eu lembro passo a passo de tudo. Desde a ida, porque fomos uns dias antes para se ambientar ao clima e tudo. Na chegada, não deixaram a gente dormir na primeira noite, tivemos que trocar de hotel. No vestiário, eles reduziram o espaço, a segurança deles era precária, a gente sofreu muito com isso. Até no jogo, quando eu peitei o árbitro eu fui agredido por um policial. Dá para ver no lance que ele me joga no chão com uma joelhada. Sofremos muito. Agressões aos nossos seguranças também por parte da polícia de lá. São coisas que, hoje, seriam postadas na internet e vistas por todos. Naquela época não tinha muita visibilidade. No vestiário tinha tinta fresca, não deixaram a gente aquecer. E o jogo foi aquilo, uma batalha, uma guerra. A arbitragem totalmente contra também. Lembro de todos os detalhes daquela tarde, sim.

ZM: Dois anos depois, você foi titular daquela grande campanha na Libertadores de 2007 com o vice-campeonato. O sentimento daquele ano é de que o time foi até onde deu ou era possível ficar com a taça?

P: A final da Libertadores foi um jogo diferente também. A gente classificou ‘capengando’, digamos assim. Também nos classificamos na fase de grupos no último jogo, contra o Cerro Porteño, em um gol do Everton. E depois fomos pro mata-mata sofrendo muito fora de casa, levando um ou dois gols de diferença. Só que a confiança da torcida no time era tanta que a gente, juntamente com eles… porque aquele time nunca estava sozinho, tinha a torcida, a Geral, eles aqueciam aquela Azenha quando a gente chegava com o ônibus. Era maravilhoso ver e viver tudo aquilo. Tenho tudo na memória. Perdemos pro São Paulo fora, revertemos em casa. Perdemos pro Defensor fora, viramos em casa. Pro Santos, que era uma máquina, com o Zé Roberto, nós ganhamos em casa e depois sofremos muito lá, mas conseguimos a classificação.

ZM: E aí vem o Boca Juniors do Riquelme na final.

P: É, aí foi diferente. Eles tinham uma máquina. O Riquelme naquele ano jogou tudo que ele tinha e um pouco mais. Acho que a gente foi aonde poderíamos chegar. Não foi demérito perder para o Boca Juniors naquele ano. Eles tinham uma equipe muito grande, muito boa, com grandes atletas. Palacio, Palermo, Ibarra, muitos caras famosos e de alto nível. Não foi demérito, mas ficou aquele gostinho de que poderíamos ter ganho a Libertadores. Já pensou? A gente sai da segunda divisão, faz tudo que fez, chega na Libertadores e é campeão em cima do Boca dentro do Olímpico? Aí sim, aí teriam que fazer uma taça para cada jogador nosso

ZM: O que você acha dos laterais de hoje do Grêmio, principalmente o João Pedro? Sobre isso, ainda te pergunto: os laterais de hoje são muito diferentes dos da tua época?

P: É um pouco fora de critério eu falar dos jogadores de hoje da minha posição, mas eu acho o João Pedro um bom jogador. Um jogador que talvez não tenha aquela garra que os últimos laterais gremistas tiveram. O que eu joguei no Grêmio, a raça que eu tinha, o que o Edilson jogou no Grêmio e a raça que ele tinha, é o que o torcedor quer. Um cara com raça e disposição. Ele é bom apoiador, já fez alguns gols, mas acho que ainda falta aquela raça, aquela força, ser mais aguerrido dentro de campo. Mostrar para o torcedor que ele está ali para lutar pelo time e não simplesmente para jogar. Não só ele. Alguns jogadores do Grêmio precisam mostrar mais isso. Que estão pelo Grêmio, não simplesmente por um contrato.

Sim, hoje os laterais são bem diferentes da nossa época. A gente jogava muito em linha de quatro, fazia muito isso. Eu diria que se eu jogasse hoje eu me daria muito bem. Fazer linha de quatro era uma das coisas que eu mais sabia fazer lá atrás. Cobertura do zagueiro, o volante podia subir, na época tínhamos o Lucas Leiva. Hoje não, hoje o lateral quer subir muito e por vezes leva bola nas costas. Eu não lembro um gol que o Grêmio levou na época que tenha sido pelo meu lado.

João Pedro pelo Grêmio
João Pedro foi avaliado por Patrício em nova entrevista – Foto: Lucas Uebel/Grêmio

ZM: Recentemente, jogadores da sua época como Tcheco e Danrlei, deram declarações dizendo que não trabalhariam no Inter, como o Roger Machado fez neste ano. Você, por sua identificação com o Grêmio, qual sua opinião sobre este tema?

P: Falar sobre uma decisão sobre a do Roger, foi algo muito particular. Eu, por exemplo, não caberia eu trabalhar no Internacional um dia. Acho que até a torcida não deixaria. A gente não estando confortável, a gente não consegue trabalhar sossegado. O Roger está tendo esse momento feliz no Inter. Ele pegou um time muito bom, que precisava de organização. O Roger é muito bom treinador. Com certeza, ele pegaria a equipe e faria jogar. É o que está fazendo. Decisão particular. Eu não me sentiria confortável. Eu, na posição dele, não teria a coragem de fazer isso. Cada um tem a sua opinião, mas eu particularmente não aceitaria. No começo, o próprio Roger foi questionado. Se ele não estivesse com os resultados de hoje, não seria mais o técnico do Internacional pelo fato de ter toda a carreira que teve no Grêmio. Não seria muito bem aceito. O técnico é aquilo: quando ganha está tudo ótimo, tudo bem. Mas agora ficou difícil para ele voltar ao Grêmio. Seria uma boa opção para o Grêmio, mas acho difícil ele voltar, especialmente se ganhar alguma coisa pelo Inter.

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