Leanderson diz ter visto “corpo mole” em ano da queda e lamenta ter saído queimado do Grêmio: “Dei a cara pra bater”

Ex-volante gremista entre as temporadas de 2003 e 2004 conversou com a reportagem do Zona Mista

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Gremista fanático desde o berço, sendo assíduo nas arquibancadas do Olímpico até se tornar profissional do clube, o ex-volante Leanderson levou o seu “gremismo” para dentro de campo e como ele próprio define, conforme entrevista dada nesta semana ao Zona Mista, deu a “cara pra bater” mesmo no difícil ano de 2004, que marcou o segundo rebaixamento da história tricolor. No bate-papo, ele lamenta ter visto “corpo mole” de companheiros que vieram de fora naquela campanha e mantém o arrependimento de ter ido em definitivo para o Sport Recife em 2005.

Zona Mista: Para iniciarmos o bate-papo, gostaria de te perguntar qual é o teu sentimento hoje vendo esse momento delicado do Grêmio. Como é para um cara como você, gaúcho de Porto Alegre e criado na base gremista, ver essa dificuldade e ameaça de nova queda?

Leanderson: O sentimento é ruim, cara. Ainda mais eu, que fui criado dentro do Grêmio. Passei 12 anos da minha vida lá dentro. De criança a adolescente e depois também na fase adulta. Então pra mim é sempre complicado ver o time nessa situação. Passei por isso. Tive a infelicidade de ser rebaixado com o Grêmio e sei o peso que é isso. Ainda mais sendo de Porto Alegre e com familiares gremistas. Mas creio que o Grêmio ainda tem chances de sair dessa, e eu estou na torcida para que isso aconteça. Não estou lá dentro para saber o que está acontecendo, mas como torcedor eu espero que tudo dê certo.

ZM: Você fez parte de anos difíceis do Grêmio entre 2003 e 2004. No primeiro deles, o clube evitou a queda. No segundo, aconteceu o rebaixamento. Relembrando aquele momento, o que você colocaria como principal motivo para cair?

L: Sim, acabei subindo em 2002 e vivi dois anos complicados no profissional. Nesta época o Grêmio vivia alguns problemas financeiros. Coisas internas que acabaram culminando dentro do campo. Em 2003, pela qualidade do grupo, pela experiência e pela espinha dorsal com jogadores que já tinham conquistas dentro do clube foi mais tranquilo sair daquela situação. Até porque havia experiência e atletas com nome no clube. Depois, tive o prazer de ser titular com esses atletas. Por mais que fosse uma situação difícil, nós que estávamos dentro do contexto sabíamos que o time iria sair porque o grupo era muito qualificado. Já em 2004 eu acredito muito que a montagem de elenco não foi legal. Nós atletas da base, que precisaríamos de caras mais experientes, acabamos ficando como a linha de frente daquele ano. E não poderia ser assim. Aquele ano acabou queimando vários garotos de qualidade. E acabou gerando o rebaixamento. Pra mim, o motivo da queda foi o planejamento. A montagem de elenco, por mais que existisse problema financeiro, não foi a ideal. Se você tem jogadores que vestem a camisa do clube, fica mais fácil. Mas naquele momento não existia isso.

ZM: Assim como em 2004, o Grêmio de 2021 também vai fechar a temporada com quatro treinadores diferentes. Isso, na sua visão, é errado?

L: Com certeza. Essas trocas de treinadores são sempre erradas. Mas sei que no cenário brasileiro isso acaba até sendo normal. É complicado. Quando você tem quatro treinadores diferentes é porque as coisas não estão andando dentro do campo. Com certeza, creio que isso parte também de um comando de direção nessa troca repentina. Aquele cara que deu certo de treinador, o clube deve buscar algum outro com características parecidas com ele para que as coisas sigam andando. Perfil parecido. Quando não acontece, e você pega um comandante aleatoriamente, acaba sendo difícil o entendimento dos atletas. Tanto na parte técnica como inclusive na parte física. É sempre muito complicado assim. Vejo que é um erro, mas não só do Grêmio. Você acaba mexendo muito no comando sem dar sequência para o treinador.

ZM: Desde os três últimos jogos, o Grêmio novamente está tendo a torcida a seu favor na Arena. Acredita que possa ser um diferencial? Quais as suas principais lembranças da torcida do Grêmio no antigo Olímpico?

L: Torcida do Grêmio sempre foi um fator diferencial. Tanto na parte positiva como também na parte negativa em relação à pressão nos atletas. Creio que no ano de 2004, que eu participei, o torcedor estava ali junto. Eles queriam que as coisas andassem bem, mas não andaram. Então a cobrança em cima daqueles atletas foi muito grande. Principalmente nos jogadores que eram da casa e que botavam a cara pra bater dentro de campo. Porque muitos caras que foram contratados, vieram de fora, se esconderam, não iam pros jogos. Quem queria, quem era enraizado com o clube, botou a cara pra bater. E acabou se queimando e o torcedor pegou no pé. Em alguns jogos foi bem complicado. Nesse momento, não tendo torcedor, para alguns garotos talvez seja mais tranquilo. Mas creio que a torcida faz a diferença também para o lado positivo. Quando a torcida joga junto, empurra. Como eu vi no Olímpico, porque eu era um torcedor e também era de arquibancada. Vivi muito aquilo ali, lembro da avalanche. Era um fervor. E depois tive a oportunidade de ser atleta profissional e vivi momentos maravilhosos ao lado do torcedor.

ZM: Falando especificamente da sua carreira, por que você deixou o Grêmio em 2005 e não atuou na Série B? Pela sua vontade, você teria permanecido no clube?

L: Pegando as estatísticas, eu fui o jogador que mais joguei pelo Grêmio em 2004. Eu estava sempre disponível e disposto como falei anteriormente. E acabei me queimando. Porque, naquele ano, só não joguei de goleiro e de centroavante. De resto, pela lembrança que tenho, joguei em todas as posições. Quarto zagueiro, lateral-direito, esquerdo, meia, volante, claro… e fiquei muito exposto. Fiz isso porque eu era um torcedor dentro de campo. Via que as coisas estavam ruins e queria ajudar. Enquanto eu via também muitos outros fazendo corpo mole, não querendo estar em campo pela pressão. Aí chegou 2005 e eu pedi para jogar só de volante, independente de ser titular ou não, mas que eu pudesse brigar por uma posição apenas de volante. E tive problemas em relação a isso na pré-temporada, porque queriam me colocar de lateral e eu não aceitei.

ZM: Foi o seu fim no Grêmio.

L: Aí um membro da comissão técnica da época achou que eu não era jogador “de grupo”, essas coisas assim que a gente vê no futebol. E passou isso na época para o diretor que tinha assumido, que era o Mário Sérgio. Em comum acordo, eles entenderam que eu não deveria seguir no elenco e que deveria treinar em separado. Eu tinha mais dois anos de contrato. Nisso, o Adilson Batista me ligou para eu ir para o Sport Recife e era proposta vantajosa financeiramente. Aceitei. Não fui emprestado, fui de vez pra lá. Mudando os dois anos que eu tinha com o Grêmio e passando esses dois anos de contrato com o Sport.

ZM: Existe um certo arrependimento por ter topado a proposta do Sport? Permanecendo em 2005, já que aquele time mudou muitos jogadores, você talvez pudesse ter novas chances.

L: Sim, me arrependo. O Grêmio foi a minha vida. Sempre me arrependerei. O Grêmio me ensinou a ser homem, me criou. Se eu tivesse ido emprestado e voltado, o Grêmio, em uma situação melhor, poderia ter frutos comigo. Como aconteceu em 2002 logo quando eu subi e depois em 2003, acabando o ano, recebi muitas propostas. Até a metade de 2004 em relação particular a mim, Leanderson, estava muito bom sobre procuras e interesse de outros clubes. Do Brasil e de fora. Acabou que o Grêmio, na época, não quis me liberar dizendo que eu não era moeda de troca. Culminou com o fim de ano ruim do clube e a minha situação terminou dessa maneira. Acho que Deus sabe de todas as coisas, o caminho foi trilhado e sou muito grato pelos 12 anos que vivi no Grêmio.

ZM: Para fechar: como é o dia a dia de um jogador de futebol quando o clube se encontra em uma zona de rebaixamento? É possível separar as coisas?

L: Não tem como separar nada. É impossível. Ainda mais o atleta que vive essa paixão de ser profissional 24 horas por dia. Hoje, não basta você ser jogador, você precisa ser atleta. Se cuidar dentro e fora de campo. Tu acaba focando e tua energia fica toda ali. Tu esquece até um pouco da família nesse momento de dificuldade. Tu foca aonde tu pode melhorar e ser mais assertivo. Isso culmina numa entrega total naquele objetivo, mesmo que às vezes você não o alcance. Acredito que todos os atletas, ou pelo menos na sua grande maioria, se entreguem veementemente nessa busca de não deixar um clube cair. De não ter o seu nome manchado em uma instituição como é o Grêmio. Que é grandioso. Tenho certeza que é uma situação complicada para todos que passam por isso, ainda mais em um grande clube do futebol brasileiro.

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