Em uma época de poucas alegrias e muito sofrimento no Inter, o ex-meia Elivélton representava raros momentos de bom futebol na temida década de 90, em que as alegrias com o futebol no Rio Grande do Sul se resumiam ao lado azul. Mas, ainda assim, o antigo jogador mantém muito carinho pelo colorado como deixou claro na entrevista exclusiva ao Zona Mista, relembrando histórias dos famosos protestos da torcida no Portão 8 do Beira-Rio e do gol salvador de Dunga em 1999, contra o Palmeiras, evitando aquele que seria o primeiro rebaixamento na história vermelha:
Zona Mista: Para iniciarmos nossa conversa, Elivélton, gostaria de saber o que o Inter representou na sua carreira? Qual o sentimento que você mantém até hoje pelo clube?
Elivélton: O Inter representou muito, sim, em minha carreira. Quem nunca sonhou em jogar em um grande clube do futebol mundial? E o Internacional com certeza me atraiu. Eu sempre admirei muito as cores do Inter e sempre ouvia falar do clube por causa do Falcão, uma personalidade importantíssima no colorado. Eu tenho um carinho especial pelo Inter. Na minha chegada, fui muito bem recebido por todos, sempre respeitei a torcida colorada e eles o mesmo. Eu deixei o meu melhor como sempre fiz em todos os clubes que representei, sempre buscando oferecer uma alegria para todos com a minha determinação e entrega. Apesar de hoje eu não ter mais contato com a entidade, sempre estarei torcendo para que o Inter ganhe títulos importantes.
ZM: Na época, era um outro Beira-Rio, outros tempos, com um tipo diferente de torcedor. Existia o “Portão 8”, onde os torcedores do Inter cobravam os jogadores quando os resultados eram ruins. Mesmo assim, qual a sua lembrança da torcida do Inter?
E: Caramba, é verdade esse famoso Portão 8 (risos). A torcida do Inter sempre foi uma torcida vibrante, sempre apoiando os jogadores, sempre jogando com o clube. Eu me lembro de dois episódios, um pelo lado ruim, que foi uma eliminação de Copa do Brasil para o Juventude, que dói até hoje. Nesse dia, o bicho pegou no Portão 8 (risos). Nós tivemos que esperar todos irem embora e ficamos trancados na concentração até altas horas. Mas foi bizarra a nossa eliminação e os torcedores ficaram enlouquecidos com razão. Mas eu sempre tive uma boa relação com todos e o outro episódio foi quando não deixamos o Inter cair com o gol de Dunga contra o Palmeiras. Do gol em diante, foi uma explosão de alegria no Beira-Rio e depois a saída do estádio estava tranquila. Poderíamos sair e chegar em casa mais cedo nesse dia. Era uma torcida apaixonada e inesquecível.
ZM: Você citou agora um dos jogos mais emblemáticos do clube, em que você esteve em campo naquela vitória de 1×0 contra o Palmeiras, gol de Dunga, em 1999, livrando o rebaixamento. Era uma pressão muito grande?
E: Sim, com certeza, pressão era o que não faltava. Todos os dias, a cada treino, a cada jogo, era um Deus nos acuda. Poxa, não tinha sossego. O último jogo foi contra um Palmeiras que não facilitou em nada pra nós, um jogo tenso, uma semana com adrenalina nas alturas, nós jogadores concentrados ao máximo sem chances para errar. Eu lembro no vestiário no dia do jogo com um aperto enorme no coração, o Dunga, um dos mais criticados em seu retorno ao futebol brasileiro, ele falou que nós não iríamos dar esse gostinho amargo para a torcida colorada e que o Palmeiras não iria respirar no jogo.
ZM: Por falar nele, como foi a convivência com o Dunga?
E: Era um baita profissional, campeão do mundo, sempre nos fortalecendo. E entramos com sangue nos olhos e corremos com o coração na ponta da chuteira. Com toda a nossa força, cada dividida contra o Palmeiras era o nosso prato de comida. Foi incrível. Nós brilhamos nesse jogo e não deixamos o Inter cair. E para completar a festa o autor do gol tinha que ser ele, o capitão da Seleção Brasileira, Dunga. Cara, foi uma explosão de alegria, com muita emoção, uma noite daquelas de arrepiar os cabelos (risos).
ZM: Antes, você jogou em vários outros clubes como Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras, entre outros. Qual considera ter sido o melhor momento da carreira?
E: O melhor momento meu foi no São Paulo. Foi através do São Paulo que eu cheguei à Seleção Brasileira, conquistei vários títulos importantes lá, foi a minha criação para o mundo do futebol internacional. Não que os outros não tiveram importância na minha carreira, pelo contrário, sempre fui muito abençoado em todos os clubes que eu representei.
ZM: De toda a sua carreira, qual o clássico mais marcante e qual mais gostou de jogar?
E: Clássico São Paulo x Corinthians, em 1991, final, onde o Raí no primeiro jogo fez três gols. O bicho pegou. Foi um jogo muito disputado e no primeiro jogo matamos o Corinthians, indo para a segunda partida tranquilos para dar a volta olímpica.
ZM: Para finalizar, como foi a sua decisão de parar de jogar profissionalmente? Hoje, sente falta dos tempos de jogador?
E: Bom, eu já estava esgotado dos treinamentos. Também tive algumas contusões não muito sérias, mas que prejudicavam muito. Minhas panturrilhas sempre reclamando (risos). Aí eu resolvi parar. Eu estava preparado, não havia mais o que fazer. No começo foi díficil, pois vivia ainda aquela coisa de concentração, viagem, treino, estádio, torcida. Demorei um pouco para me adaptar à nova realidade, mas sou sempre grato por tudo que Deus me proporcionou e para onde sempre me levou.