Atual comentarista do Grupo Globo, fazendo jogos pelo SporTV e pela afiliada da emissora em Pernambuco, o ex-zagueiro Danny Morais conversou com a reportagem do Zona Mista para lembrar, principalmente, dos seus longos anos vestindo a camisa do Inter. Ele, que esteve envolvido no gol de Nilmar no título de 2008 na Sul-Americana, se mostra extremamente grato ao clube do Beira-Rio e não descarta voltar ao futebol em outra função, já que tem cursos de executivo e de treinador no currículo:
Zona Mista: Você viveu praticamente mais de uma década no Inter entre categorias de base e profissional. Como foi, na época, em 2010, a decisão de sair em definitivo do clube? Por mais que gostasse do Inter, sentia que precisava deslanchar a carreira em outros lugares?
Danny Morais: Eu cheguei no Inter com 12 para 13 anos e o clube foi fundamental na minha formação como atleta e também um grande apoio na minha formação como pessoa. Eu tive muitas alegrias no clube desde a base. Fiz parte da equipe mais vencedora da história do Internacional da base, dos nascidos em 1995. Só ali tivemos Renan goleiro, Diego e Diogo, entre tantos outros. Foi uma época muito feliz, mas também de muitos desafios. Quando eu chego no profissional, demorei um pouco mais que alguns para me firmar. Transitei entre time B e profissional. Até que me firmo e participo da década mais vencedora do Inter. Ganhei experiência com erros e acertos. Em 2008 foi o ápice da minha história no Inter, sendo campeão da Sul-Americana e jogando constantemente. Mas, todo jovem que inicia, tem altos e baixos e comigo não foi diferente. Chegou um momento que eu sentia que precisava sair para ter outras experiências. A minha família é toda de Porto Alegre e eu sentia que precisava ser um pouco mais independente, viver outras experiências.
ZM: Foi aí que surgiu o Botafogo.
DM: Sim e resolvi aceitar. Foi muito bom para mim como atleta e pessoa. Logo em seguida, fiz um ano onde fomos campeões cariocas com aquela cavadinha do Loco Abreu. Encerrou meu contrato lá e voltei para o Inter após aquela situação da derrota do Mundial de 2010. Me juntei ao grupo que ficou em Porto Alegre no ano seguinte, o Celso Roth era o técnico na época e fiquei um tempo afastado. Aí sim tomei a decisão de sair, de voar, de rescindir o contrato. Ainda tinha mais alguns anos de contrato com o Inter, mas a ideia era viver novas fases no futebol. Foi aí que comecei a me desapegar do Inter e viver nova vida em outros clubes.
ZM: Como foi a convivência, no seu começo de carreira, com nomes como Bolívar, Índio, Fabiano Eller, Álvaro, entre outros daquele tempo de Inter? Era uma “escola” diária para você?
DM: O Inter foi essencial na minha formação muito por conta dos profissionais que lá estavam e também pelos atletas que estavam naquele ciclo. Eu destaco o Fernandão, que era um cara de características parecidas comigo e que me acolheu, me ensinou e me aproximou. É referência de liderança que eu tenho e que cultivei na minha carreira profissional. Tinha o Clemer, que era mais explosivo e de cobranças mais fortes, mas aprendi muito. Bolívar, Fabiano Eller, da minha posição. O Índio, que era um cara completamente diferente, muito positivo e que tinha imposição pela força dele de jogar e de querer fazer as coisas. Então, são diversos tipos de pessoas vencedoras. Guiñazu, D’Alessandro, Magrão… vou esquecer de alguns aqui que também foram importantes. Eram caras que incentivavam a treinar bem, a ser disciplinado, a se preparar bem. Foi uma escola para mim, sim. Acredito que, no futebol de hoje, fazendo um paralelo, falta um pouco desse respeito que a gente tinha com os jogadores mais rodados. E também pelo trabalho e pela dedicação que se tinha lá atrás.
ZM: Você já parou para pensar muitas vezes que, por detalhes, você não foi o autor do gol do título da Sul-Americana de 2008? O goleiro faz um milagre na sua cabeçada e depois o Nilmar acaba fazendo o gol.
DM: Muita gente me fala sobre isso. Como seria se eu tivesse feito aquele gol na Sul-Americana? Óbvio que eu gostaria de ter feito. Mas ter jogado, ter sido peça fundamental naquela final, a maneira que eu fui escolhido para jogar, a confiança do grupo e do Tite… já que o Índio sofreu lesão um dia antes. Na mesma hora o Tite já falou que eu iria jogar. Eu vinha sendo o capitão da equipe alternativa que vinha jogando o Brasileirão. E essa equipe tinha Gustavo Nery, o Clemer, mesmo assim fui o capitão e isso era muito representativo. Para um menino que chegou no Beira-Rio com 12 anos e sonhava em jogar um jogo com o estádio cheio pelo time que torcia na infância. E conseguir jogar uma final, ser campeão continental, dentro do Beira-Rio lotado e ainda mais podendo ter ajudado no gol. Poucos lembram, mas, no gol deles, eu estava marcando o cara que fez o gol. Sofri um bloqueio de basquete na marcação, perdi o cara de vista e fizeram o gol. Foi um sinal de virada de chave, de reação a um erro que faz parte do futebol, mas dentro da própria partida. Seria legal ter feito o gol, mas o aprendizado que eu colhi também foi muito bom.
ZM: Falando da atualidade, como foi o processo para que você se tornasse comentarista? Já tinha em mente desde que jogava? Como tem sido a experiência?
DM: Em 2017, eu fui para a Coreia do Sul e tive uma transferência para um clube de lá, saindo do Santa Cruz, do Recife, depois de dois anos aqui. Ganhamos os dois principais títulos do clube, dois estaduais, uma Copa do Nordeste, voltamos para a Série A. Foi uma escolha de vida e de família ir para a Coreia. Mas, quando voltei, em 2018, até tive outras propostas, mas escolhi voltar para o Recife. Atualmente, é onde moro. Construí o restante da minha carreira aqui. Aqui, poucos jogadores vem e ficam. Usam de trampolim para voos maiores, mas, quando voltei, comecei a me preparar. Tenho curso de executivo de futebol da CBF, sou formado como treinador pela CBF, fiz cursos para trabalhar em frente às câmeras também. Foi um processo natural, de acordo com o reconhecimento que tive aqui, do respeito que tive do local aqui. Começou a chamar a atenção ainda quando eu jogava e quando parei eu tive propostas para exercer as três funções que te falei. Mas, por sair um pouco do processo desgastante do futebol e para ficar mais tempo com a família, escolhi estar na televisão. Tive a oportunidade e hoje trabalho na Globo como comentarista, fazendo jogos no SporTV e no Premiere. Iniciei com contrato curto para o Campeonato Pernambucano e já estou há um ano e meio.
ZM: Para finalizar, o que você pensa sobre o seu futuro dentro do futebol? Pretende seguir por anos na carreira de comentarista ou voltaria ao futebol como treinador ou dirigente?
DM: Sobre o meu futuro, hoje estou feliz como comentarista. Retomando a paixão que eu tinha pelo futebol, algo que, ao longo dos anos como atleta, você vai ficando com menos vontade. Mas continuo me preparando. A gente não pode parar nunca, porque a gente não sabe como vai ser o dia de amanhã. Sou formado como executivo e treinador. São áreas que tem tudo a ver com o futebol. Não tenho pressão para decidir sobre isso. Gosto muito dessas áreas de gestão e do campo, mas, existe uma entrega muito grande e parecida com a de atleta. De dia a dia, de não parar muito em um lugar, de ter que sair. Então, hoje, a minha prioridade está sendo a minha família. Aos poucos, a gente vai sentindo saudade da rotina, mas deixo o futuro em aberto, sempre me preparando.
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