Claudiomiro recorda elenco “quase perfeito” do Grêmio e ainda sente trauma contra o Olímpia: “Tragédia”

A noite do dia 17 de julho de 2002 ainda teima em permanecer na memória do ex-zagueiro gremista Claudiomiro. Definida como “tragédia”, a polêmica jornada contra o Olímpia, dentro do Estádio Olímpico, tirou do Grêmio a chance de disputar a final da Libertadores e fez do árbitro argentino Daniel Giménez um verdadeiro desafeto dos tricolores. O fatídico jogo é um dos panos de fundo da exclusiva do antigo defensor à reportagem do Zona Mista.

Zona Mista: Quais as suas principais lembranças daquele período no Grêmio?

Claudiomiro: As lembranças são muito boas. Especialmente pelo grupo que tínhamos. Um grupo muito amigo, um ambiente muito bom. E tínhamos um elenco de muita qualidade. Fizemos aquela semifinal da Libertadores de 2002 contra o Olímpia, naquele polêmico jogo dos pênaltis, que o juiz mandou voltar… aquilo marcou. Digamos que deu uma esfriada naquele grupo, foi um banho de água fria naquele momento. Mas depois conseguimos dar a volta por cima e chegamos à semi do Brasileirão, acabamos perdendo pro Santos do Diego e do Robinho. Aquele grupo era demais, cara. Tinha jogos que era difícil até ficar no banco, ficar entre os 18 convocados, tamanha a qualidade que tínhamos. Era Darnlei, Anderson Polga, Tinga, Zinho, Rodrigo Mendes, Gavião, Anderson Lima, Rodrigo Fabri, Christian, Luís Mário, Gilberto… eu diria que foi um grupo quase perfeito. Ficou faltando um grande título, mas me marcou bastante aquela época no Grêmio.

ZM: De tão intenso que foi, dá pra dizer que esse período te fez virar um torcedor gremista atualmente?

C: Com certeza, com certeza. Foram quase quatro anos de Grêmio, de 2001 a 2004, sempre jogando com muita entrega, dedicação, e isso gerou sim um carinho e uma afinidade muito grande pelo clube. Mas tu sabe que é engraçado. Eu, quando pequeno, em Santana do Livramento-RS, sempre fui torcedor do Inter. A minha mãe era colorada. E o meu nome entrega, né? (Na década de 70, o Inter teve um atacante de muito sucesso chamado Claudiomiro). Lembro que na minha apresentação no Grêmio, em uma coletiva de imprensa, logo me perguntaram essa questão do nome. Hoje até posso dizer que torço pelos dois. Antes quando estive no Coritiba e no Santos eu já torcia pela dupla Gre-Nal. Claro que hoje é uma outra situação, mas sigo acompanhando e torcendo por ambos. Não somos mais os mesmos, o tempo passa, muda o rosto, muda a fisionomia, mas ainda tem muito gremista que me reconhece nas ruas. Acho que é porque eu sempre fui um jogador que vesti a camisa e que briguei pelo clube.

ZM: Você se antecipou na primeira pergunta (risos)… Sobre aquele fatídico jogo contra o Olímpia, na semifinal da Libertadores de 2002. Foi a maior frustração da sua carreira?

C: Eu diria que a frustração foi pela maneira como tudo aconteceu. Nós tínhamos um grupo muito forte, preparado e perdemos a vaga para a final. Teríamos a chance de jogar contra o São Caetano. A arbitragem foi lamentável durante toda a partida, e aquilo me marcou bastante. Eu fiz um gol legítimo quando estava 0x0. O Zinho fez para nós depois e com 2×0 teríamos passado de fase. Uma bola dentro da área, eu chutei e o Luís Mário pulou para a bola não bater nele. O bandeirinha e o árbitro acharam que ele tinha atrapalhado o goleiro deles, que era o Tavarelli, mas ele estava do outro lado. O Luís pulou e não tinha ninguém atrás dele. Atrapalhou quem então? Foi uma frustração muito grande. Depois, nos pênaltis, o Eduardo Martini pegava e o juiz mandava voltar. Eu, sinceramente, acho até que alguém do próprio Grêmio poderia ter interferido naquele momento dos pênaltis. Não digo o presidente, o José Alberto Guerreiro, na época, fez o que podia ser feito. Mas alguma coisa tinha que ser feita. Aí o Rodrigo Fabri acabou errando e perdemos dentro do Olímpico, uma tragédia. Aquilo lá me marcou muito e até hoje eu lembro.

Relembre aquela partida:

ZM: E na casamata vocês tinham o Tite. Já naquela época dava para perceber que ele era diferenciado?

C: Já naquela época, com certeza. O homem já era diferenciado (risos). E eu notei isso logo de cara, nos meus primeiros dias de Grêmio. Eu cheguei, fiz os exames de rotina, assinei o contrato e dei a coletiva. Aí ele chegou em mim e perguntou: “Tu já assinou?”. E eu: “Sim, professor”. E aí ele me surpreendeu: “Amanhã o treino é 15h30, mas chega perto das 14h que a psicóloga vai estar te esperando”. Eu não entendi nada. Nunca tinha visto aquilo no futebol, mesmo tendo jogado no Santos e no Coritiba. Claro que hoje é mais comum, mas na época não existia isso. Depois, conversando com ela, entendi que o objetivo do Tite era ter em mãos um perfil de cada atleta do Grêmio. Ele queria saber como deveria lidar individualmente com cada um. Só nisso ele já foi muito diferente. Cara, ele é um gestor. Dentro de campo também é diferente. Eu cheguei em 2001, mas joguei pouco porque quebrei o metatarso, operei, mas ele nunca deixou de falar comigo ou com aqueles que não estavam jogando. Conversava, dialogava, ele sabia lidar com o grupo. Então eu fico muito feliz por tudo o que ele está vivendo hoje. Lá atrás ele mostrou que poderia chegar e que merece muito.

ZM: Mas a saída dele do clube acabou sendo conturbada…

C: Mas já havia um grande desgaste naquela época. Em 2003, acabamos perdendo nas quartas de final da Libertadores para o Independiente Medellín e no jogo seguinte, contra o Figueirense, perdemos ou empatamos, se não me engano. Jogando mal. A pressão era enorme. Já havia um desgaste daquele grupo, o que era normal. O próprio Tite, por ser daquela forma, de sempre se entregar para o trabalho, pode ter visto que não conseguia mais tirar nada do elenco.

Nota da redação: o clima já não estava bom no elenco gremista, em 2003, por conta de uma ligação vazada do então presidente Flávio Obino com um jornalista, que captou uma conversa entre o mandatário e demais dirigentes. Na gravação, o vice-presidente de futebol Luiz Eurico Vallandro criticava alguns jogadores e chamava Anderson Lima, Rodrigo Fabri e Luís Mário, então titulares, de “ovelhinhas” de Tite.

ZM: No ano seguinte, 2004, ocorreu o rebaixamento. O que acarretou essa queda do Grêmio?

C: Essa aí não dá para pular? (risos). Então, não tenho problemas em falar disso porque tenho a minha consciência tranquila. Totalmente tranquila. Digo isso porque a minha parte eu fiz. Boto a cabeça no travesseiro e durmo tranquilo. Tem vezes que as pessoas me param e lembram da queda de 2004, perguntam se fiquei marcado, eu digo tranquilamente que caímos, que fica marcado, mas que eu superei tranquilamente. Porque a minha parte eu fiz. Não é algo que me atinge. Talvez se eu tivesse sido ainda mais Claudiomiro não tivéssemos caído. Foram muitos erros que acabou levando a isso. A gente trocava muito de treinador. Vinha um técnico, ficava dois ou três jogos e saía. Isso dificulta demais para o jogador. Não tínhamos confiança. Em 2003 a gente já tinha sofrido até a última rodada, mas escapamos. Cometemos os mesmos erros e todos fizeram parte.

ZM: Naquela sua época de Grêmio, sobretudo nos Gre-Nais, era muito comum as provocações. Recentemente, muito por conta da volta dos grandes títulos do Grêmio, esse tema voltou à pauta. Cabe no futebol?

C: Provocação faz parte do futebol. Sempre fez. Isso tem em todos os lugares, tem em todos os clubes. Mas claro que tem que existir um limite. Só que no Rio Grande do Sul é mais forte. Há um fanatismo muito grande entre gremistas e colorados. Eu até acho que naquela nossa época tinha bem mais provocações do que tem hoje. Tinha o Danrlei, o Fabiano no Inter… mas acabava o jogo e estavam todos juntos. Era algo que sempre se resolvia dentro de campo. Não era levado para fora. E duvido que hoje em dia eles levem para fora de campo. Nunca ouvi falar de jogadores que se pegaram fora do campo por provocações.

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