Aranha relembra racismo na Arena e detona Grêmio: “Agiram como se eu fosse oportunista, agitador”

O goleiro Aranha voltou a falar sobre o caso de racismo em que foi vítima, na Arena, em 2014, durante uma partida entre Santos e Grêmio pela Copa do Brasil. Nesta quarta-feira, ele foi o convidado do Troca de Passes, do SporTV, para tratar do delicado tema que novamente está em alta com a recente morte do ex-segurança negro George Floyd por um policial, branco, por asfixia.

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Aranha, que jogou por último no Avaí, em 2018, reclamou com veemência da postura do Grêmio especialmente nas outras vezes que atuou na Arena após o fatídico episódio:

“Esse é um caso que foi para mídia (morte de George Floyd), filmaram, como meu caso na Arena do Grêmio. O problema são os casos que não são registrados. Para você ter ideia, no caso do Grêmio com toda a filmagem, com todas as provas, com tudo que foi falado, o Grêmio colocou uma câmera exclusiva para mim toda vez que eu voltava e me colocaram como agitador, como oportunista. Em nenhum momento o Grêmio agiu como deveria”, lamentou, para depois desabafar de forma mais abrangente:

“A parte dos xingamentos (racistas) é a mais fácil. Complicado é com aquilo que você não enxerga. A essência do futebol no Brasil é totalmente racista, os negros não podiam jogar. Como é uma coisa nova ainda, de 100 anos, tem muito diretor, netos de diretores daquele tempo. Muito figurão ainda no futebol que traz esse pensamento. O que aconteceu com o Barbosa (goleiro da Copa do Mundo de 1950)… Eles usaram aquele lance para descarregar o racismo nele, porque era negro e eles não queriam. Usaram aquilo e depois dele para todos, “goleiro negro não vinga, não serve”. No meu caso, passei a ser o encrenqueiro. Todo time que me contrata sabe que toda vez que acontecer alguma coisa eu vou ter que falar e estarei com a camisa do clube. Nem todo diretor está disposto a abraçar isso”.

Aranha era o goleiro titular do Santos quando ouviu sons de “macaco” vindo das arquibancadas e reclamou com o juiz Wilton Pereira Sampaio. O Santos venceu a partida de ida pela Copa do Brasil por 2×0 e não precisou do jogo da volta, já que, por conta do racismo, o STJD decidiu excluir o time gremista do torneio – a torcedora Patrícia Moreira, além de Eder Braga, Fernando Ascal e Rodrigo Rychter, foram acusados pelo caso.

Flagrada pelas câmeras praticando o ato de racismo, Patrícia e os outros três acusados tiveram que se apresentar em uma delegacia uma hora antes de cada jogo oficial do clube – em casa ou fora -, com saída uma hora depois, durante dez meses. Os quatro aceitaram em novembro de 2014 a proposta de suspensão condicional do processo.

A torcedora ainda teve a sua residência apedrejada, perdeu o emprego que mantinha e iniciou tratamento psiquiátrico. As imagens do racismo, que correram o mundo, revoltaram a opinião pública.

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