O torcedor gremista já deve ter feito esse exercício de imaginação. Quem venceria um possível duelo: o time aguerrido, valente e bravo dirigido por Luiz Felipe Scolari nos anos 90 ou a equipe refinada, técnica e de bom trato com a bola de Renato Portaluppi de 2016 a 2020? Fizemos essa pergunta ao ex-centroavante Rafael Jaques, integrante do Grêmio da década de 90 e reserva do artilheiro Jardel – hoje treinador, Jaques acumula experiências no São José e no Remo.
Zona Mista: Recordando a sua passagem pelo Grêmio na década de 90, quais as principais lembranças e qual seria o grande diferencial daquele elenco que ganhou tantos títulos?
Rafael Jacques: O grande diferencial do grupo de 1995, 1996, toda aquela turma, era a união liderada pelo grande comandante Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Amparado não só pela sua comissão técnica, mas pela diretoria com o presidente Fábio Koff e o Cacalo (Luiz Carlos Silveira Martins, dirigente da época). Aconteceu uma mescla de jogadores experientes, jogadores da base e jogadores desacreditados. Todos eles criaram um ambiente de muita ambição e de acreditar, com muita união. Esse foi o grande diferencial.
ZM: Há quem diga que o Grêmio mudou com o passar dos anos. O da década de 90 era mais na garra e na força física, e o atual é mais técnico. Você concorda? E quem você acha que ganharia um eventual jogo: o Grêmio dos anos 90 ou o Grêmio de Renato de 2016 a 2020?
RJ: Sem dúvida nenhuma, concordo absolutamente, o Grêmio mudou muito o seu estilo. Nos anos 90, era muito raça, força física, cruzamentos e foi um time muito vencedor. Mas ocorreu sim essa mudança. Ela começou, na minha opinião, com o Tite em 2001 ganhando a Copa do Brasil. E depois uma alteração muito grande com a chegada do Roger Machado. O Roger sim deu um padrão de jogo tático totalmente diferente do que o Grêmio sempre teve. E o Renato aperfeiçoou com seu toque de qualidade, sua experiência e a sua visão dentro daquilo que ele acredita. Então, hoje o Grêmio é muito diferente do década de 90, mas continua com jogadores como tinha naquela época e nos anos anteriores, no sentido de serem jogadores técnicos, mas também com perfil de raça, de força física e de imposição. Um jogo entre o Grêmio da década de 90 e o Grêmio dessa década, bom, eu acho que daria empate em 2×2.
ZM: Como era a convivência com o Felipão naquela época e o que você tirou dele para seguir a carreira de treinador?
RJ: A convivência com Felipão era maravilhosa. Era como um pai. Felipão é um grande líder de grupo, um paizão. Não é por acaso que, onde ele passa, é admirado, respeitado e querido pelo grupo de jogadores. Tirei muita coisa, tirei isso aí dele, tirei essa essa questão do carisma, da importância pros detalhes do jogo também. Felipão é um técnico onde os detalhes dos jogos são muito importantes, como bola parada ofensiva, bola parada defensiva, entre outros. É um treinador tático, extremamente estrategista. Tirei muita coisa, tiro muita coisa dele até hoje. Não só dele, mas de todos os treinadores que eu trabalhei na carreira.
ZM: No futebol gaúcho, você fez boas campanhas com o São José no Gauchão. Como é trabalhar no futebol gaúcho sem tanto investimento e estrutura na comparação com a dupla Gre-Nal? É um aprendizado?
RJ: Foram dois anos e meio, quase dois anos e meio, no comando da equipe principal do São José. Em termos de investimento, estrutura, é muito difícil lutarmos contra a dupla Gre-Nal e por isso o nosso aprendizado é muito grande, porque aprendemos a valorizar muito aquilo que é investido no clube. E ali no São José nunca faltou nada. Sempre foi simples, mas nunca faltou nada. Sempre teve o apoio da diretoria e conseguimos construir grupos vitoriosos, grupos vencedores, grupos que acreditaram muito. Isso foi muito importante, porque muitas vezes trabalhamos com jogadores que haviam ganhado pouco na carreira, né? Poucas conquistas na carreira profissional e ali no São José conseguiram realizar grandes sonhos. Então, foi um aprendizado fantástico que eu levo pro resto da minha vida como uma base muito forte que eu construí na minha carreira como técnico.
ZM: Para finalizar, você coloca uma meta de carreira como treinador? Gostaria de estar trabalhando na Série A, por exemplo, em quanto tempo?
RJ: Eu não coloco prazo. Eu coloco metas, mas não coloco prazos como treinador na minha carreira. A meta principal que eu coloco é procurar ser o melhor treinador possível que eu puder ser hoje. No treino de hoje, no meu jogo dessa semana, por exemplo. Então, o meu esforço é diário, o meu aprendizado é diário, meu crescimento diário e a minha dedicação é diária. Então, o melhor que eu puder ser hoje, o melhor treinador que eu puder ser hoje é a meta. Consequentemente, os resultados vão vir. Consequentemente, as oportunidades vão aparecer e aí cabe a mim fazer as melhores escolhas para o meu futuro. Por isso eu não coloco prazo. Prefiro trabalhar com metas diárias e mensais.